Rio - Hamilton de Holanda e Diogo Nogueira aproveitam o papo com O DIA, durante a sessão de fotos, para recordar clássicos da música brasileira que poderiam ter entrado no recém-lançado álbum gravado pela dupla, ‘Bossa Negra’. Diogo solta a voz no belo choro ‘Chorando Pelos Dedos’, do pai João Nogueira (1941-2000) e Claudio Jorge, com Hamilton no acompanhamento. E lembram de um repertório fantasma, repleto de pérolas — que, no álbum, deu lugar a um material feito pela dupla,calcado na bossa nova e nas batidas afro.
“A gente fez um show em 2013 já com esse nome ‘Bossa Negra’, com músicas de compositores que influenciaram o projeto”, diz Diogo, afirmando que muitas dessas composições estarão terça e quarta no show de lançamento do álbum, no Theatro Net, em Copacabana. Entre elas ‘Vatapá’ (Dorival Caymmi), ‘Batendo a Porta’ (João Nogueira) e ‘Sem Compromisso’ (Geraldo Pereira), todas filtradas pelo conceito do disco.
A dupla se conheceu no casamento do irmão de Hamilton, há muitos anos. Em 2009, por coincidência, os dois, já amigos, apresentavam-se em datas diferentes em Miami. “Eu e Hamilton fizemos um show no improviso, com sons que tinham a ver com os ‘Afrossambas’ (disco de Baden Powell e Vinicius de Moraes, de 1966). Começamos a falar sobre fazer um disco. E o nome surgiu aí”, diz Diogo.
Mesmo com tanta vontade, ‘Bossa Negra’ — cujo título, por sinal, repete o de um álbum clássico de Elza Soares, de 1960 — acabou adiado até agora. Hamilton é sempre cheio de projetos, shows e discos novos (recentemente lançou um CD duplo, ‘Caprichos’). Diogo não fica atrás. Após quatro anos de espera, fizeram o tal show juntos em 2013 e decidiram promover uma revolução no conceito do CD. “Resolvemos que boa parte do disco seria autoral. Cheguei com umas melodias, Hamilton, com outras, fizemos letras”, lembra Diogo.
Nasceram assim músicas como a faixa-título (parceria com Marcos Portinari) e ‘Bicho da Terra’ (com Wallace Perez e Bruno Barreto). ‘Mais Um Dia’ e ‘Doce Flor’ foram compostas a dez mãos com Portinari e com os dois outros músicos do disco, André Vasconcellos (baixo) e Thiago da Serrinha (percussão). ‘Brasil de Hoje’ é de Diogo, Hamilton, Portinari e Arlindo Cruz — que enviou sua parte por Whatsapp, de Belém do Pará.
“Nessa música, nossos filhos foram ao estúdio fazer o coral. No final, rolou aquele silêncio, todo mundo chorando”, recorda Hamilton. O material é complementado por releituras como ‘Desde Que o Samba É Samba’ (Caetano Veloso), ‘Risque’ (Ary Barroso) e ‘Mineira’ (João Nogueira e Paulo Cesar Pinheiro).
‘Bossa Negra’ vai sair em breve em vinil, aproveitando o clima de estúdio dos anos 70 que imperou na gravação. “Usamos amplificação valvulada e masterizamos em fita de rolo. Dá para ouvir até o chiado da fita”, alegra-se Hamilton. Com seis músicas de sua autoria no disco novo (mais do que em qualquer álbum seu), Diogo anuncia que, após gravar novo DVD em janeiro, deve lançar o primeiro CD a ter só sambas seus. “Está na hora de mostrar mais esse meu lado de compositor”, conta o sambista.