Por daniela.lima

Rio - Música alternativa, rock, sons eletrônicos, samba, funk, drogas, álcool e muita diversão. E, em outros tempos, roupas caras, a rotina chique do chamado café-society, festas com piano-bar, eventos exclusivistas. Uma história que vem do século 19 e que o empresário Leo Feijó (ao lado do designer Marcus Wagner) busca resumir no livro ‘Rio — Cultura da Noite’ (ed. Leya/Casa da Palavra, 582 págs., R$ 54,90). A obra terá seu lançamento numa festa no antigo Cassino da Urca, com orquestra, pianista e o DJ Zé Octávio, no próximo dia 5. “É o primeiro baile do cassino desde 1946. A ideia é que o público vá com figurino de época: disco, punk, anos 20...”, diz.

A noite na Casa da Matriz%2C em BotafogoDivulgação


Em boa parte, o foco do trabalho é na resistência do lado festeiro do carioca ao longo das décadas. “A noite sempre foi perseguida pelo moralismo”, relata Feijó. “A ditadura fechou clubes como o Black Horse, alegando que o pessoal do Clube dos Cafajestes (turma de playboys da Zona Sul dos anos 60) ia lá para fumar maconha. Nos anos 30, na época do (presidente) Getúlio Vargas, a Lapa foi destruída pela polícia. Sempre houve perseguição.”

Leo e Marcus rememoram uma série de mudanças, hábitos e desvios geográficos que marcaram a noite do Rio. O livro passa pelos porres de uísque nos antigos piano-bares, pela descoberta da black music nos bailes da Furacão 2000 (ainda nos anos 70), pelos drinques de nomes inusitados do Crepúsculo de Cubatão (casa gótica de Copacabana) e pelas noites de cocaína dos anos 80 — com direito a usuários esticando “carreiras” na mão, na fila do banheiro de bares como o Jobi, no Leblon.

“Não consigo nem localizar qual seria a época áurea da nossa noite. Tem a Lapa dos anos 20, os ‘Bailes da Pesada’ do Canecão. E o Beco das Garrafas nos anos 60, com toda aquela movimentação de músicos”, conta Leo, acreditando que seu livro mostre, mais do que apenas a noite, a história da música feita no Rio.

“Não é algo que tem a ver só com o DJ na pista, embora seja isso que as pessoas pensem quando se fala na noite. O que conta é que o carioca é muito apaixonado por música”, diz o autor. “O Rio tem ainda lugares que nem foram descobertos de verdade e lotam. Tem casas noturnas em bairros como Campo Grande, por exemplo. E as pessoas vão mesmo!”

A circulação do carioca pela sua cidade é um dos temas que mais aparecem em ‘Rio — Cultura da Noite’. “Nos anos 80, quem era da Zona Sul não ia para a Zona Norte, quem gostava de rock não ia para o samba. Isso mudou. Há festas itinerantes”, conta Leo, que cita no livro até lugares mais recentes, como o Bukowski, a Casa da Matriz e a extinta Bunker 94. A chegada da música eletrônica e a emergência da cultura LGBT não ficaram de fora.

Sócio do Grupo Matriz (da Casa da Matriz e do Odisseia) e idealizador do prêmio Noite Rio, ele está afastado das noitadas. Mas dá um jeito de acompanhar as novidades. “Hoje vou mais a bares, shows no Circo Voador. As pistas antes eram mais intensas e os bares hoje estão mais lotados. Onde essa galera ia antes? Provavelmente estava em casa vendo novela”, arrisca Leo, que expôs projetos sobre cultura ao se candidatar a vereador pelo PSB, em 2012. “Nem pensava em ser eleito, queria mostrar minhas ideias. Hoje nem tenho mais vida partidária.”

NAS PISTAS CARIOCAS

A pedido do DIA, Leo Feijó fez uma lista das cinco melhores pistas de dança da atualidade no Rio. “Nem dá para falar em festas, porque as pistas são itinerantes. Mas destaco essas aí”, conta.

WOBBLE. Festa de música eletrônica (dubstep e drum’n’ bass) , com pista comandada pelo DJ Rodrigo S. “Acontece na Fosfobox e tem edições gratuitas na cidade em lugares como Praia do Leme e Vila Mimosa.”

BAILE DO VIADUTO DE MADUREIRA. Veterano reduto da black music, todos os sábados. “Tem os DJs residentes Fernandinho, Guto e Michell, sempre com vários convidados, como Corello DJ.”

JAZZ AHEAD. Voltada para o jazz atual. “Tem o DJ Gustavo MM e o VJ Nelson Porto. Rola no Clube dos Macacos, no Horto, e tem shows de músicos como Ricardo Silveira.”

PISTA ABERTA. “Os DJs Tati da Vila e Canetti fazem a festa no Solar de Botafogo, numa sequência perfeita para começar no bar anexo, o Teto Solar. Eles tocam de tudo: MPB, pop, rock , soul...”

CAVE. No Arpoador. “Foi inaugurada em 2013, é uma das casas noturnas mais bem estruturadas hoje no Rio, voltada para e-music e hip hop, incluindo after-hours até 10h da manhã.”

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