Por daniela.lima
Leda Soares%2C a MC VéiaDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Rio - Se não estivesse bombada na web e nos programas de TV, Leda Maria Soares, de 67 anos, seria apenas mais uma a andar despercebida no meio do calçadão de Campo Grande, na Zona Oeste no Rio. Mas seus funks ‘Eu Favelei’ (com quase 120 mil visualizações no YouTube) e ‘Funk da Concubina’ (com quase 12 mil) já fazem da ex-professora a badalada MC Véia. Com um saquinho plástico cheio de papéis na mão, ela cumprimentava jovens e curiosos no local. Ao final do bate-papo, entregava-lhes um bilhetinho com seu endereço no Facebook e com o nome de suas músicas. Logo no início da sessão de fotos que fez para o DIA, dona Leda mostrou sua autenticidade e bom humor. “Calma aí! Deixa eu ajeitar minha dentadura que saiu do lugar. É o Corega que está vencido”, disse ela, às gargalhadas.

Sem nenhum tipo de vergonha, MC Véia se meteu no meio do povo e repetiu por quase 20 vezes os versos “De tanto ouvir o funk, confesso, me amarrei. Sem caô, eu favelei!”, dançando e fazendo os mesmos passinhos de seu clipe, tudo para que o fotógrafo captasse uma boa imagem. Incansável. O que é de se admirar. Ela enchia o peito de orgulho quando alguém se aproximava para dizer que a tinha visto no ‘Encontro com Fátima Bernardes’. Os mais jovens repetiam com ela os versos de seu funk e a empolgação rolava solta. Logo ela, que, assim que se mudou de Bangu para a comunidade Vila do Céu, em Cosmos, em 2000, detestava o som do batidão. 

“Me mudei porque a situação ficou péssima, fui morar num barraco. Me lembro que, um dia, caiu um caco de telha na minha sopa, com o único pedaço de carne que tinha”, contou. “Antes, eu ficava muito incomodada com o funk nas alturas, mas, depois de um tempo, eu favelei (termo usado para definir as pessoas que adotam os hábitos dos moradores da favela) e comecei a compor. Já tenho mais 15 músicas para lançar, tem até rock.”


No processo de divulgação de seu trabalho, dona Leda usa os coletivos e o calçadão de Copacabana: “Quero que todos me conheçam. Já aprendi a andar no trem sem me segurar, igual a vendedor de bala. Vou entregando meus bilhetinhos, cantando minhas músicas.” Uma de suas canções é o ‘Funk da Concubina’, que ela fez inspirada na própria história. O refrão — que diz: “Se cuida, se pinta, você é tão bonita, mas cuidado com o ataque da concubina. Ela é bonita, gostosa e sabe que é cheirosa” —, MC Véia fez questão de explicar. “Me descuidei, foi falha minha. Fiquei temperando os bifes em casa e a concubina se cuidando. Aí, perdi o marido. Enquanto eu passava a roupa dele, a outra amarrotava.” Mas nem lembrar dos momentos difíceis fez dona Leda perder o bom humor. Tudo que falava era completado com boas risadas.

Em certo momento, foi MC Véia quem quis perguntar: “Essa matéria vai sair na primeira página?” Diante da resposta positiva, ela sorriu, agradecida. “Não sendo na página criminal, tá ótimo!” Solteira, a idosa, que dispensa o bom e velho tricô, não quer saber de namorados. Tampouco dos ‘novinhos’ (gíria que denomina os menores de 18 anos). “Adoro os novinhos, mas só como meus amigos. Sempre estive solteira e feliz. Só quero me dedicar à música.” Ela também não quer saber de cantar funk ostentação. Segundo dona Leda, ela nem está podendo, já que ainda não começou a colher os frutos de suas produções: “Não vou ostentar porque não tenho nada. Meu anel é de R$ 1,99, meu relógio é do camelô e minhas blusas são todas de banca.”

Valesca Popozuda e Anitta são as queridinhas da nova cantora do gênero. Mas, deixando a empolgação funk um pouco de lado, a famosa senhora de Cosmos admite que não se segura ao ouvir Roberto Carlos. Por instantes, ela jogou o olhar para o alto e cantou à capela os versos de ‘A Distância’. Palmas no final. Foi lindo. E ela voltou a abrir seu sorriso contagiante. Dona Leda garantiu que já se sente realizada por tudo o que vem conseguindo. Mas ainda sonha participar do programa ‘Esquenta’, da Regina Casé, cantar com Naldo Benny e, quem sabe um dia, conhecer Paris. “Já estou famosa, só não tenho dinheiro. Quero brincar, me divertir, ganhar o mundo.” Já ganhou, dona Leda. Fique tranquila.

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