Por daniela.lima
Stepan Nercessian com a famosa buzina do ChacrinhaMárcio Mercante / Agência O DIA

Rio - De cartola e buzina na mão, Stepan Nercessian, de 60 anos, foi para o trono. E Leo Bahia, de 23, também. Os dois atores vão interpretar o Velho Guerreiro, em diferentes fases da vida, em ‘Chacrinha, O Musical’, que tem estreia marcada para 14 de novembro no Teatro João Caetano. Com roteiro de Pedro Bial e Rodrigo Nogueira, e direção de Andrucha Waddington, o espetáculo teve sua primeira reunião de trabalho anteontem, no Imperator, no Méier, onde o elenco, formado por 22 atores-cantores, ouviu histórias de Chacrinha contadas por quem conviveu com ele, como Elke Maravilha, o empresário Ricardo Amaral e o cantor Sylvinho Blau-Blau.

“Isso é uma loucura, me chamar para fazer um musical! Sou uma pessoa que não canta, não dança e mal representa”, brincou Stepan, ao ser apresentado por Bial. “Existem vários imitadores do Chacrinha, mas eu não quero imitar. Vamos atrás do espírito dele, da alegria que ele tinha, e que eu tenho também.”

Afastado dos palcos há mais de 15 anos, Stepan teve seu nome sugerido para o musical pela atriz Fernanda Montenegro, sogra de Andrucha. Para ganhar fôlego e enfrentar a longa temporada, o ator promete fazer caminhadas e exercícios físicos, além de reduzir o cigarro e a bebida. “Faço tudo que não devia, fumo, bebo, sou sedentário... Mas preciso ter energia em cena”, admite ele, que também está fazendo aulas de voz. “Para melhorar a respiração e cantar.”

Enquanto Stepan participou algumas vezes do júri do ‘Cassino do Chacrinha’ nos anos 80, Leo Bahia, que nasceu três anos depois da morte do Velho Guerreiro, só o conheceu por imagens na internet. Atualmente em cartaz no musical ‘Ópera do Malandro’, o ator vai interpretar Chacrinha até os 40 anos, antes do sucesso na TV. “Quando falam dele, a primeira imagem que me vem à cabeça é o chapéu e a buzina”, diz Leo, que ganhou o papel após participar de audições com mais de 400 candidatos.

Orçado em R$ 12 milhões, o espetáculo vai acompanhar a trajetória de Abelardo Barbosa desde a infância em Surubim, em Pernambuco, até o auge da carreira, no comando do ‘Cassino do Chacrinha’, na Globo. Dividido em dois atos, resgata chacretes, calouros e os sucessos musicais da época.

Rodrigo Nogueira (E), Pedro Bial, Andrucha Waddington, Elke Maravilha, Ricardo Amaral e Sylvinho Blau-Blau falam sobre Chacrinha durante o primeiro encontro do elencoMárcio Mercante / Agência O Dia


“Nosso compromisso não é o rigor biográfico, não é tentar ser cronológico. Perseguimos aquilo que o Chacrinha perseguia, a alegria”, diz Pedro Bial, que fez o primeiro tratamento do texto a partir das pesquisas de Carla Siqueira e depois chamou Rodrigo Nogueira, autor de ‘Rock in Rio, o Musical’, para “bagunçar” tudo. “Trazemos a loucura dele para o palco”, completa Rodrigo.

Pela primeira vez na direção no teatro, Andrucha diz que vai comandar o musical como se fosse um filme. “Quero honrar o espírito do Chacrinha. Apostei num protagonista que não canta, mas acho que Stepan tem o DNA dele.”

Elke Maravilha, que também é retratada na peça, lembrou a intimidade que compartilhava com Chacrinha, a quem chama de ‘painho’, durante os 14 anos como jurada. “Ele me pedia para ficar com ele no camarim, ficava muito nervoso antes do programa. Se sujava todo, usava umas quatro cuecas”, conta ela, acrescentando que o apresentador urinava na sua frente. “Ele não tinha pecado.”

Ricardo Amaral contou que, em 1972, chamou o Velho Guerreiro, brigado com as emissoras, para se apresentar em sua boate, a Sucata, na Lagoa. “Lá, ele fazia o que não podia fazer na TV. Brincava com os convidados. Toda noite, sobrava pra mim: “Alô, Ricardo Amaral, vem pegar no meu...”, contou ele, às gargalhadas.

Você pode gostar