Rio - Ficção e realidade se misturam em ‘Aconteceu na Lapa — Novela Carioca em Quadrinhos’ (Ed. Myrrha, 48 págs., R$ 30), novo livro do jornalista Luís Pimentel, que será lançado dia 20, às 13h, na Livraria Folha Seca, no Centro. Em 48 páginas, o escritor e colunista do DIA faz uma viagem no tempo para lembrar ícones da música e da cena boêmia do Rio de Janeiro, como Geraldo Pereira, Wilson Batista, Noel Rosa, Assis Valente e Madame Satã.
Inspirada no conto ‘Salve o Compositor Popular’, publicado pelo autor no livro ‘Um Cometa Cravado na Tua Coxa’ (2003), a obra traz passagens dos anos 50 e também recordações de décadas anteriores. “Quando resolvi fazer uma coisa maior passeando pela Lapa, escolhi contar essa história através de um narrador que conheceu todos esses personagens, que viveu todas essas épocas. Como não convivi com nenhuma dessas figuras, ‘Aconteceu na Lapa’ é uma ficção, claro, mas inspirada em fatos reais”, diz o autor.
Para retratar esse cantinho tão carioca capaz de arrebatar gerações, o escritor baiano recorreu a um parceiro de longa data. “Escolhi o Amorim para fazer as ilustrações, porque ele tem um traço muito bonito, que traduziu com perfeição a Lapa, os seus arcos, os seus bares, as suas particularidades. Nós temos uma exposição permanente no bar Carioca da Gema, com crônicas minhas e caricaturas do Amorim”, conta.
A opção por fazer um livro de quadrinhos também foi uma espécie de volta no tempo. “No começo da minha carreira aqui no Rio, trabalhei com quadrinhos do Sítio do Picapau Amarelo e do Recruta Zero. Agora, o quadrinho voltou à moda. Mas, quando decidi por essa linguagem para o livro, a minha intenção foi usar muitas imagens para contar essa história”, justifica.
O resultado acabou gerando uma comunicação mais dinâmica com o leitor, que está cada vez mais antenado com diversas mídias. “Essa observação é interessante, mas não pensei nisso quando optei pelos quadrinhos. Simplesmente achei que a Lapa e todos esses compositores que passaram por lá mereciam ter as imagens registradas.”
Curiosamente, Pimentel não é um habitué do bairro boêmio, nem exatamente um amante desse cartão-postal do Rio. “Sou apaixonado pela música e por todos esses compositores antigos. Já frequentei muito a Lapa, mas hoje em dia cada vez menos. Me falta disposição para uma vida noturna”, confidencia.
Outro fato que chama atenção no livro são expressões como “escurinho”, usadas antigamente com naturalidade e que, nos dias de hoje, muitas vezes são interpretadas como racistas. “O Geraldo Pereira, por exemplo, era apelidado de bom crioulo. Era um apelido carinhoso. Ele mesmo se intitulava escurinho. Na época em que ele viveu, não tinha essa bobagem do politicamente correto. Reproduzi no livro como as pessoas falavam antigamente e espero que isso seja visto como uma linguagem de época, sem nenhuma conotação racista.”