Por thiago.antunes

Rio - O tempo passa. A vida daria um filme. Com duas simples premissas, uma delas repetida por uma das personagens, o diretor Richard Linklater (da trilogia 'Antes...') mostra em Boyhood - Da infância à juventude um filme belo e arrebatador. Boyhood conta a história de Mason (Ellar Coltrane), dos seis anos até sua matrícula na faculdade, aos 18.

Para mostrar a relação do personagem central com seu núcleo familiar, Linklater filmou a história por alguns dias durante 12 anos com os mesmos atores. Em pouco mais de 2h40, assistimos Mason interagindo e aprendendo com sua família, amigos do bairro, colegas de escola, suas descobertas e reações às mudanças impostas pela vida, relacionamentos e o inevitável amadurecimento.

Em Boyhood%2C Richard Linklater retrata rotina de Mason (Ellar Coltrane) por 12 anosDivulgação

Na essência, pode parecer um filme de crescimento e formação, como os clássicos Clube dos Cinco e Sociedade dos Poetas Mortos. Mas a aposta de revelar principalmente a vivência do personagem com sua irmã Samantha (a filha do diretor, Lorelei Linklater) e os pais separados Olivia e Mason (Patricia Arquette e Ethan Hawke), com seus próprios dramas pessoais, é deslumbrante. 

A passagem dos anos é ilustrada de forma direta, com muitas referências, sem ignorar a inteligência do público. A música de abertura do filme, 'Yellow', dos ingleses do Coldplay (uma canção de 2000) abre o filme e, pouco tempo depois, Mason é visto jogando um Nintendo Wii (lançado em 2006). O método de filmagem trabalha a serviço do roteiro. Do pai do menino reagindo e ensinando aos filhos os acontecimentos políticos da época à crise econômica recente nos Estados Unidos, que afeta os negócios da mãe.

Acima de tudo, a intensidade reflexiva é o que interessa aqui, mas Boyhood passa longe da grandiosidade autoreferente. O que Linklater quer é mostrar acontecimentos aparentemente banais em larga escala e — nem sempre estamos atentos para perceber — que possuem um tremendo significado. A evolução de todos os personagens é crucial, enquadrada sempre de forma natural, despretensiosa e bastante realista. Uma das grandes cenas-chave acontece em um boliche. Diante de sua inabilidade com a bola, Mason pede que as canaletas sejam levantadas para facilitar o jogo. "A vida não te dá canaletas", responde o pai. 

O golpe de mestre é o contexto universal da trama. Com uma crueza ímpar, mas sem espaço para cenas fáceis e apelos melodramáticos, o diretor realiza um filme magistral, com momentos que poderiam figurar na vida de qualquer pessoa. A vida é efêmera, já que tudo muda de um instante ao outro. Experiências ruins, alegres, injustas ou engrandecedoras determinada medida estão em cada esquina. Ou, como o próprio Mason coloca, "os momentos são constantes". 

Você pode gostar