Por karilayn.areias

Rio - Joãosinho Trinta (1933-2011) não entendeu, num primeiro momento, que sua vida ganharia uma ficção no cinema. A notícia foi dada ao carnavalesco enquanto ele trabalhava na Acadêmicos do Grande Rio, para o Carnaval de 2003. Mas a ficha demorou a cair.

Ele ficaria orgulhoso de ver o resultado do filme ‘Trinta’, de Paulo Machline, que foi exibido ontem na sessão de gala do Festival do Rio, no Theatro Municipal. “Ele não entendeu que eu queria fazer uma ficção e não um documentário”, disse Paulo Machline. Foram três meses consecutivos, quase 24h por dia de gravações, depoimentos e descobertas. Até que Paulo conseguiu achar, na relação de Joãosinho com o balé, a história que queria contar.

Matheus Nachtergaele interpreta Joãosinho no longa ‘Trinta’Divulgação

“Fiquei intrigado com a frustração dele com o balé, com sua trajetória na dança e isso acabou sendo o fio condutor. Não queria fazer um documentário, meu objetivo sempre foi fazer um filme, e, por isso, tive que decidir qual, das muitas histórias dele, eu iria contar”, acrescenta o diretor.

A cada dia que passava ao lado de Joãosinho, Paulo descobria o que muita gente não fazia ideia. “A maioria só o conhece como carnavalesco, nem sabe que ele chegou a dirigir óperas no Theatro Municipal. Pude conhecer o dia a dia dele e todas as pessoas que fizeram parte daquele universo. Todo o material que colhi serviu como uma grande pesquisa. Em 2005, surgiu o primeiro roteiro do filme”, conta Paulo.

A falta de patrocínio fez com que o projeto fosse engavetado e Paulo teve que adiar a produção. “Não consegui um patrocínio sequer na época. Até que a Primo Filmes ressuscitou o projeto anos depois, tirei ele da gaveta e fiz uma nova edição do roteiro. Depois disso, ganhei todos os editais. Aquela não era mesmo a hora”, acredita ele, que começou a rodar o longa em 2012.

Foi Matheus Nachtergaele a melhor escolha para interpretar Joãosinho. “Pensei no Matheus desde a primeira linha do roteiro, o primeiro que escrevi. Nunca pensei em outro ator que não fosse ele. Matheus teve uma performance brilhante, entendeu bem a expressão corporal do João, fez aulas de balé e se entregou raramente, como a gente não vê com frequência”.

‘Trinta’ é o segundo da trilogia que Paulo Machline pretende concluir. O primeiro, ‘Uma História de Futebol’ (1998), fala da infância de Pelé através de um amigo dele. “Sempre tive vontade de fazer uma trilogia sobre três elementos da cultura popular brasileira, que são: futebol, Carnaval e novela”, esclarece Paulo.

“Joãosinho é a manifestação maior do que representa o Carnaval. Ele é a alegria em pessoa. Ninguém diz que ele teve dois derrames, dificuldade na fala, e, mesmo assim, só pensava no futuro. Ele tinha o sonho de fazer a ópera do povo”, acrescenta.

Paulo se emociona ao lembrar que Joãosinho faleceu antes de realizar um de seus maiores sonhos: fazer a abertura das Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. “A representação da alegria do Brasil estaria ali. Ele apostava em tudo que fazia. Ele foi um cara que se dedicou integralmente ao trabalho, não dormia sem ver tudo pronto. Na época do Carnaval, ele se mudava para o barracão. Era obsessivo, exigia perfeição, justamente por ter formação erudita. E o filme mostra essa transição”.

A estreia nacional do longa só acontece no dia 13 de novembro, mas Paulo garante que a espera vai valer a pena. “Vou contar os bastidores de um super-herói. Vou contar uma grande história. Tenho certeza que vão gostar”.

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