Rio - ‘Eu trabalho nesse circo desde 1981! Você era sargento naquela época, agora quer tirar onda de barão?”, zoa Renato Aragão, na pele de seu alter ego Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgino Mufumbo, o personagem do ator e comediante Roberto Guilherme, em uma cena do musical ‘Os Saltimbancos Trapalhões’, que estreia hoje na Cidade das Artes. Mais conhecido como o careca bigodudo Sargento Pincel, Guilherme vive um vilão dono de circo na nova montagem da dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, inspirado no filme de mesmo nome estrelado por Didi, Dedé, Mussum e Zacarias (Os Trapalhões) no início da década de 80.
Quem por pouco não participa da empreitada é o próprio Renato Aragão. Aos 79 anos, ele sofreu um enfarte, em março, depois da festa de aniversário de 15 anos da filha, Livian — que também está no elenco do musical. Na ocasião, recomendaram que tomasse cuidado com emoções fortes. Coisa difícil de seguir à risca, visto que esta é a primeira vez que faz um espetáculo teatral.
“Nem estou ligando para isso! Eu jamais imaginei que meu coração teria algum problema, mas os médicos colocaram um stent (tubo para impedir o entupimento das artérias) e me deram a garantia de mais 70 anos! Pode vir tudo quanto é emoção forte, que estou preparado!”, garante o humorista. “Já fiz vários filmes e programas de televisão, mas isso aqui é mesmo uma verdadeira estreia. Teatro é um vício agora para mim”, comemora.
Chico Buarque foi o responsável pelas letras das canções de ‘Os Saltimbancos Trapalhões’ — o filme, baseado na adaptação do próprio Chico para os textos e músicas do italiano Sergio Bardotti e do argentino Luis Enriquez Bacalov. São clássicos como ‘Piruetas’, ‘História de Uma Gata’ e ‘Hollywood’, que também fazem parte desta nova montagem.
“Nossa ligação com o Chico é muito grande”, conta Möeller. “Fizemos o espetáculo ‘Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos’, em homenagem a ele. E eu me tornei apreciador de musicais por causa dos videoclipes com as músicas de ‘Os Saltimbancos Trapalhões’, que foram feitos em 1981 para divulgar o filme, uma coisa pré-MTV”, classifica.
Apesar das melodias entusiasmantes, das intrépidas acrobacias, do clima circense e das piadas e trapalhadas da trupe, o filme — quem viu lembra bem — tem um final triste, pois Didi não fatura a mocinha, vivida na tela por Lucinha Lins. “Continuo chupando o dedo no fim!”, diverte-se Renato Aragão. Mas Möeller promete uma surpresinha em sua montagem: “Eu ficava muito depressivo quando acabava o filme, mas o público agora não vai se sentir assim”, promete o diretor, sem revelar o que preparou, claro.
QUARTETO FANTÁSTICO
Velho parceiro de trapalhadas de Renato Aragão, Dedé Santana também integra o elenco do musical. Para não criar nenhum tipo de melancolia quanto à ausência dos outros trapalhões, Zacarias (1934-1990) e Mussum (1941-1994), Möeller e Botelho optaram por não colocar em nenhum momento quatro atores em cena. Mas contam que há no roteiro homenagens aos dois saudosos integrantes do célebre quarteto. “Sinto uma saudade tão grande deles que não consigo mais rever nenhum dos meus filmes, e eu não posso ficar triste para transmitir alegria para as pessoas”, resigna-se Renato. “Hoje, somos uma dupla, e vamos continuar trabalhando juntos.”
Charles Möeller é só elogios e emoção ao relatar os ensaios com Os Trapalhões. “Eles se tornaram um quarteto invencível, e não daria para colocar alguém para substituir o Mussum e o Zacarias.”