Por daniela.lima

Rio - Caio Fernando Abreu (1948-1996) não merecia nada menos que um time estelar para dar voz aos seus textos. Foi dessa forma que o cineasta Candé Salles pensou ao escalar o “casting dos sonhos” para o documentário ‘Para Sempre Teu, Caio F.’, que será exibido amanhã e quarta no Festival do Rio. No longa, atores como Cauã Reymond, Paolla Oliveira, Thiago Lacerda, Camila Pitanga e Mariana Ximenes, acostumados a papéis de protagonistas, se desnudam da vaidade e fazem questão de deixar os holofotes virados apenas para a obra do escritor. 

Thiago Lacerda em cena do filmeDivulgação


“Todos os textos falados pelos atores são de autoria do Caio e estão atrelados aos depoimentos de amigos e familiares dele. Ao todo, o filme tem a participação de 76 pessoas”, diz Candé, que fez o longa baseado no livro homônimo da escritora Paula Dip. “Quis trazer o Caio para a atualidade. A maioria dos amigos dele é da geração de 60. Por isso, quis que meu elenco fosse jovem, para equilibrar com as pessoas que dão seus depoimentos. Eu quis comunicar com essa nova geração, senão, ia ficar um filme com muito velho”, diverte-se Candé.

“Mesmo com o passar dos anos, Caio continua fazendo sucesso, porque ele se preocupava com cada palavra que escrevia e ele definia muito bem as coisas das quais a gente está sempre em busca da definição”, complementa o cineasta.

Desempenhar a função de detetive fez o diretor se impressionar com a forma como Caio se relacionava com pessoas de diversos tipos e classes. “Me chocou ver a quantidade de pessoas com quem ele tinha amizade, de Maria Adelaide Amaral a Ângela Ro Ro. Até porque ele era muito tímido. Também descobri que ele gostava muito de sair, tinha um humor ácido, que vai lá na ferida”, conta Candé que, aos 18 anos, teve a oportunidade de trabalhar com o autor, quando resolveu fazer uma peça com cinco contos dele. “Foi em 1994, eu escrevi a peça ‘À Beira do Mar Aberto’ e liguei para ele para pedir autorização para montar. Ele aceitou e, pouco tempo depois, estava ele lá comigo ajudando a mexer no espetáculo.”

Para rodar o filme, Candé voltou a estudar a obra do autor gaúcho. Ele afirma que a produção fala de tudo sobre a vida de Caio, sem cortes ou restrições. “Foi tudo falado, até o final da vida dele, quando faleceu com Aids, em 1996”, adianta Candé. Um dos momentos mais emocionantes do documentário é contemplado com a imagem e voz de Camila Pitanga. “Ela lê a carta ‘Além dos Muros’, que o Caio escreveu para o jornal ‘Estado de S. Paulo’, assumindo que ele era soropositivo.”

Paolla Oliveira entra em cena dissertando sobre a dor, tão exaltada nos textos de Caio. “Menos pela cicatriz deixada, uma ferida antiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva”, diz um trecho da carta falado pela atriz. Cauã Reymond se junta ao time e surge em frente às câmeras para falar da sexualidade traduzida por Caio, que era assumidamente bissexual. O tema amor fica sob os cuidados de Alexandre Borges e a saudade, nas mãos de Fábio Assunção. Thiago Lacerda ficou responsável por encenar parte da peça teatral ‘Pode Ser Que Seja Apenas O Leiteiro Lá Fora’. Já Bruna Lombardi e Regina Duarte dão suas contribuições com depoimentos sobre a época em que conviveram com Caio. E Natália Lage se encarrega de fazer a narração do longa.

“É um documentário clássico, com início, meio e fim, em que faço o espectador pensar, rir e sentir. Mostro várias fases da vida do Caio, ele jovem, doente. Esse filme é bom pra quem gosta dele e também para quem não o conhece. O mais importante do Caio é a sua obra. Quero fazer com que as pessoas saiam do cinema com vontade de ler um livro dele”, justifica Candé.

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