Rio - Uma das primeiras reações de quem entra no prédio número 66 na Rua Primeiro de Março é olhar para cima e se impressionar com a cúpula, de estilo neoclássico, que faz parte da arquitetura do edifício, erguido em 1880 pelo arquiteto da Casa Imperial Francisco Joaquim Bethencourt da Silva. Na época, ele não poderia imaginar que a sede da Associação Comercial do Rio de Janeiro, e depois agência bancária, se tornaria o Centro Cultural Banco de Brasil (CCBB), que completa hoje 25 anos.
Desde que abriu suas portas, 45 milhões de pessoas já se encantaram com essa cúpula e tiveram suas vidas mudadas com as dezenas de mostras, shows, filmes, peças, entre outros eventos que recheiam uma das agendas culturais mais ricas da cidade — e, na maior parte das vezes, gratuita. E esse número vai aumentar um pouco mais com a exposição comemorativa desse um quarto de século, ‘Ouro, o Fio que Costura a Arte do Brasil’ (veja a programação ao lado).
Alguns nem olharam muito para a cúpula, foram apenas ao banheiro, como lembra o gerente-geral da instituição, Marcelo Mendonça. “Frequentemente, sabemos de crianças que vinham aqui participar de alguma das oficinas culturais que promovemos há anos e, já adultas, viraram artistas. E tem uma história que me emociona: certa vez, assistindo a um programa de entrevistas, conheci um artista carioca que foi morador de rua e vivia aqui na Candelária. Ele falou que vinha ao CCBB para ir ao banheiro e tomar água. Um dia, foi convidado para ver uma de nossas exposições, e isso transformou sua vida. O seu olhar para a arte foi sensibilizado por uma exposição nossa. Isso é maravilhoso”, afirma Mendonça.
A mesma sensibilidade marcou a vida da produtora cultural Júlia Vanini, de 27 anos e que, há 20, colocou o número 66 da Primeiro de Março em seu roteiro. “A primeira visita foi à exposição permanente do Museu do Dinheiro. Fiquei encantada e não me importava de ver repetidas vezes, com meus pais. Mas o que eu mais me lembro é da obra do Dalton Lopes, ‘Serra Pelada’, que ficou por muitos anos exposta lá. Simplesmente me hipnotizava. Era uma cena com muito movimento. Eu era muito criança na época, não fazia ideia de quem era o Dalton Lopes, nem mesmo identificava aquilo como uma obra de arte”, lembra a produtora, que, por uma incrível coincidência, há cerca de um ano reencontrou a obra que a fascinou ainda criança, no Museu Casa do Pontal, no Recreio. “Não consegui conter a emoção. Me vi com 7 anos no CCBB, completamente encantada por aquilo”, confessa.
O CCBB também marcou a vida da gerente de marketing Ligiane Lemos, de 35 anos. “Aos 14 anos, comecei a fazer um curso de desenho e pintura, e, em julho de 1996, um dos professores levou a turma ao CCBB. Me apaixonei e tive a certeza de que as artes e aquele lugar estariam comigo a vida inteira”, exalta. Hoje, sempre que ela vai ao CCBB, leva amigas, como a fisioterapeuta Eliane Brasileiro, de 38 anos, e a analista de sistemas Marília Lemos, 39. “Gosto de ver como reagem e, ao final, trocar ideia sobre as mostras”, justifica a gerente.
Enquanto Ligiane gosta das exposições, o que atrai a professora de música Elrese Penna, 80 anos, são os concertos. “Venho da Barra até aqui há muitos anos, nem consigo me lembrar quantos. Pelo menos duas vezes por mês estou no CCBB. Eu amo música clássica e aqui é um espaço muito bom para isso, além de ser um endereço de suma importância para a cultura do Rio e do Brasil”, destaca.
Essa importância na verdade já ganhou status internacional. O CCBB é, hoje, o museu mais visitado do Brasil e o 21º do mundo, segundo publicou o jornal inglês ‘The Art Newspaper’, especializado em arte, em abril deste ano. “Alcançamos uma estatura que, atualmente, nos permite conversar em nível de igualdade com instituições do exterior. Um tempo atrás, recebíamos exposições em pacotes prontos, nada podia ser ajustado. Agora, falamos sobre as necessidades do público brasileiro, como interatividade e textos mais explicativos, e conseguimos ser atendidos. Recentemente, recebemos a visita de quatro diretores do Louvre, que têm interesse em projetos aqui”, comemora o gerente-geral da instituição.
Agenda de aniversário
EXPOSIÇÃO
Ouro: O Fio que Costura a Arte no Brasil
Com instalações, fotografias, esculturas e joias, entre outras obras. Abre hoje. De qua a seg, das 9h às 21h. Grátis. Até 5 de dezembro.
Perto do Rio Tenho Sete Anos
Com fotografias de André Gardenberg sobre o universo pantaneiro. Abre dia 22 de outubro. De qua a seg, das 9h às 21h. Grátis. Até 22 de dezembro.
Vivei Viral
Com obras de artistas brasileiros e estrangeiros que questionam o impacto da cibercultura. Abre dia 22 de outubro. De qua a seg, das 9h às 21h. Grátis. Até 22 de dezembro.
CINEMA
Mostra Pasolini
Retrospectiva completa dos filmes de Pasolini, produzidos entre 1961 e 1975, com realização de debates. Abre dia 16 de outubro. De qua a seg, com duas ou três sessões diárias. Programação completa em: http://culturabancodobrasil.com.br/portal/pasolini-2/. R$ 4 (inteira). Até 10 de novembro.
O Olhar de Pasolini sobre o Terceiro Mundo
Exposição que integra programação da Mostra Pasolini. Com parte do acervo fotográfico do cineasta, inédito no Brasil. Abre dia 16 de outubro. De qua a seg, das 9h às 21h. Grátis. Até 10 de novembro.
MÚSICA
Tulipa Ruiz
Show com repertório do último CD. Estacionamento do CCBB. Dia 7 de novembro, a partir das 21h30. Grátis.
Festival Villa-Lobos
Jovens instrumentistas apresentam obras de compositores nacionais e estrangeiros. Dias 17, 20, 21, 24, 27 e 28 de novembro. O CCBB ainda não divulgou os horários e o valor do ingresso.
Mostra Cine Brasil Música
Com documentários e longas de ficção que tratam de personagens e movimentos musicais brasileiros, a mostra de cinema integra a programação do Festival Villa-Lobos. Abre dia 15 de novembro. Sáb e dom. O CCBB ainda não divulgou o horário e o valor do ingresso. Até 30 de novembro.
TEATRO
Carne
Concepção e atuação: Daniela Amorim e Karine Teles. Ambientação cênica: Brígida Baltar. Vídeos: Gustavo Pizzi. Projeto que integra performance e artes visuais. Estreia dia 16 de outubro. Sala A - 2º andar. De qui a seg, das 19h30 às 20h50 (performances). Qua, das 9h às 21h. De qui a seg, das 9h às 17h (visitação das obras). R$ 10 (inteira). Até 22 de dezembro.
Galápagos
Direção: Isabel Cavalcanti. Texto: Renata Mizrahi. Com Paulo Giannini e Kadu Garcia. Durante sucessivos encontros, dois desconhecidos revelam quem realmente são. Estreia dia 13 de novembro. Teatro III. De qua a dom, às 19h30. R$ 10 (inteira). Até 14 de dezembro.
Os Intolerantes
Direção: Henrique Tavares. Texto: Carla Faour e Henrique Tavares. Com Carla Faour, Ivone Hoffman. Aborda, com bom humor, contradições e preconceitos de personagens envolvidos em casos de intolerância. Estreia dia 30 de outubro. Teatro I. De qua a dom, às 19h. R$ 10 (inteira). Até 21 de dezembro.
Makunaíma
Texto e direção: Zeca Ligiéro. Direção musical: Chico Rota. Com Marise Nogueira, Rachel Araújo. Encenação de lendas ameríndias, entremeadas com trechos do diário de viagem do etnólogo Theodor Koch-Grunberg. Estreia dia 16 de novembro. Sala 26. De qui a dom, às 19h30. R$ 10 (inteira). Até 18 de janeiro.
Não Vamos Pagar Nada
Direção: Inez Viana. Com Fabrício Belsoff, Luana Martau, Marcelo Valle, Virginia Cavendish e Zéu. Texto que trata, com humor, de acontecimentos recentes na sociedade brasileira. Estreia dia 6 de novembro. Teatro II. De qui a seg, às 19h30. R$ 10 (inteira). Até 1º de dezembro.