Por karilayn.areias

Rio - Pimpolho já chegou à maioridade, o telegrama perdeu lugar para o WhatsApp, e Inara conquistou de vez o seu amor. Mas, toda vez que Salgadinho (ex-Katinguelê), Chrigor (ex-Exaltasamba) e Márcio Art (ex-Art Popular) sobem juntos ao palco, esses famosos personagens dos anos 90 voltam à cena e deixam a plateia enlouquecida por relembrar grandes sucessos da época. Reunidos desde o fim do ano passado, os integrantes do Amigos do Pagode 90 se preparam para gravar o primeiro DVD do projeto, no início do ano que vem.

Eles dispensam o rótulo de grupo. Preferem tratar a união como um projeto bem-sucedido e torcem para que a agenda de shows aumente a cada mês. “A gente é meio frustrado com esse negócio de grupo. Não me traz boas lembranças”, conta Márcio, que deixou o Art Popular em 2011 por algumas insatisfações. O cantor agora tem novos parceiros, com quem divide o palco com total liberdade. “Sou fã deles dois, são meus amigos. Cada um vai lá e mostra seu trabalho igualmente. O que estraga banda é a vaidade, e com a gente não tem isso. O nosso show fica envolvente porque as pessoas relembram parte da vida delas”, acrescenta.

Os vocalistas Chrigor%2C Salgadinho e Márcio Art investem no Amigos do Pagode 90 e dispensam o rótulo de grupoDivulgação

Intérprete de hits como ‘Inaraí’, ‘Recado à Minha Amada’ e ‘No Compasso do Criador’, Salgadinho acredita que o sucesso do projeto se dá por conta da nostalgia. “Na década de 90, não tinha essa tecnologia toda. As pessoas sentavam numa roda de amigos para conversar. Hoje, ninguém conversa mais, fica todo mundo no celular. E as nossas canções remetem as pessoas a um tempo em que elas eram mais felizes, paqueravam no trânsito. Até os que não curtem pagode falam: ‘Putz, essa música é da minha adolescência’”, reflete Salgadinho, que deixou o Katinguelê em 2001, sem rusgas. “O algoz é sempre o vocalista, mesmo que, na verdade, nem seja ele. Quando saí, fui atrás dos meus sonhos, não teve briga. Financeiramente, minha vida continuou boa, as pessoas é que criam expectativas. Uma coisa é ter status, mas lutar para ter isso o tempo inteiro é desgastante.”

Águas passadas não movem moinho. Não mesmo. Márcio não teve a mesma sorte que Salgadinho, mas garante deu a volta por cima. “Não quero ser lembrado como o cara que saiu do grupo e caiu no esquecimento, porque não foi isso que aconteceu. Continuei trabalhando, e muito. Eu saí com uma mão na frente e outra atrás. Não pedi nada para eles. Mas mantive minha vida. Tenho muitos sucessos na minha voz e estava na hora de colher os frutos disso”, explica ele, que ainda faz muita gente requebrar ao som de ‘Pimpolho’, ‘Fricote’, ‘Pagode da Amarelinha’ e ‘Bom Bocado’.

Chrigor é quem forma a terceira ponta do triângulo musical. “Quando conversamos sobre nos unirmos, não tínhamos a noção da grandiosidade. Temos nossos trabalhos solo, mas também temos muita lenha para queimar no Amigos do Pagode 90. Sou muito feliz por ter gravado músicas bonitas, que não me envergonham. Amo cantar ‘Eu Choro’, que é um consolo. E ‘Como Nunca Amei Ninguém’, que foi a última que gravei no Exalta”, conta Chrigor. Ele saiu do grupo em 2002 e, na ocasião, deixou muitos fãs órfãos de seu carisma.

“Não entendem por que eu saí e não falei nada pra ninguém. Mas eu não sou de briga, sou da paz. Eu fui tocar umas coisas que tinha em mente, cuidar dos meus filhos. Eu estava cansado. Saí para ter paz de espírito, curtir minha família, estreitar minha relação com Deus e fazer músicas que me trouxessem conforto.”

O pagodeiro também nega que tenha tido depressão após sua saída da banda. “Quiseram criar uma situação que não aconteceu. Às vezes, a gente é injustiçado por profissionais que distorcem as coisas que a gente fala ou faz. O Thiaguinho, por exemplo, só pude conhecê-lo direito depois que ele saiu do Exalta. O moleque é gente boa! Antes disso, ficavam arrumando disputas entre nós”, complementa Chrigor.

Se depender da amizade e da vontade dos três, o Amigos do Pagode 90 terá vida longa. “O Chrigor e o Márcio não têm maldade, são muito simples. Eles também não são lobistas. Isso é muito valioso”, elogia Salgadinho. “E a gente não está aqui para provar nada para ninguém. Estamos nos divertindo”, completa ele, logo em seguida. “A melhor hora é quando começa o show e a mais triste é quando acaba”, ressalta Márcio.

Cada apresentação do trio tem em média duas horas, com repertório farto de clássicos. No Rio, o próximo show acontece dia 22 de novembro, no Monte Líbano. “A amizade, que adquirimos lá atrás, é a nossa base. Sempre acompanhamos a carreira um do outro e, agora, que estamos mais maduros, com família e filhos crescidos, tem sido maravilhoso trabalharmos juntos”, destaca Chrigor.

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