Por bianca.lobianco

Rio - Se há um Réveillon inesquecível para Dinho Ouro Preto, foi o de 1995 para 1996. “A ascensão do Mamonas Assassinas coincidiu com um período em que saí do Capital Inicial. Eu estava meio por fora do circuito, tinha acabado de conhecer minha mulher, com quem sou casado até hoje. Fomos passar o Ano Novo no litoral de São Paulo e ficamos frustrados, porque estava chovendo pra caramba. Daí um vizinho começou a tocar o disco do Mamonas ininterruptamente, no volume 11! Isso ficou impresso no meu subconsciente para sempre!”, recorda o vocalista.

Dinho Ouro Preto%3A Tributo aos Mamonas AssassinasReprodução

Veja só, há males que vêm para o bem: já devidamente imerso na obra do divertido e saudoso grupo, amanhã Dinho, junto de Digão (Raimundos) e Lucas Silveira (Fresno), vai mergulhar na música da banda, que também trazia um cantor chamado Dinho — e que teve trágico fim com a morte de todos os integrantes em um acidente aéreo, três meses depois daquele Réveillon. A celebração será uma das atrações da 21ª edição do Prêmio Multishow, transmitida ao vivo pelo canal por assinatura, direto da HSBC Arena, na Barra, a partir das 22h.

“Vai ser muito divertido esse show, que está sendo dirigido pelo Kassin. É uma tradição do rock brasileiro revelar bandas com essa pegada, de sacanagem, de humor. Os Raimundos tinham uma veia engraçada também, e antes tinha ainda o Ultraje a Rigor”, lista Dinho Ouro Preto.

Guitarrista dos Raimundos, Digão concorda: “Os Mamonas eram uma versão infantil da gente, né? Imagina: você tem dois brinquedos. Um é próprio para crianças mais novas e é liberado. O outro é mais perigoso, pode machucar e é para crianças mais velhas. Nós éramos esse brinquedo mais perigoso. Os Mamonas abriram espaço para a gente tocar mais para a molecada”, considera.

Nem Digão, nem Dinho, nem Lucas se esquecem do fatídico dia 2 de março de 1996. “Era um domingo, antes do primeiro dia de aula. Acordei cedo e vi no plantão da TV, todo mundo no colégio ficou megamal. Foi um negócio muito traumático. Morreram no auge, não tiveram tempo de fazer nada”, recorda o cantor do Fresno, a angústia dividida por todos os brasileiros, como acrescenta Dinho Ouro Preto: “Em um primeiro momento, era quase que como um boato. Foi muito comovente, passei horas acompanhando, para ver se alguém poderia não ter entrado naquele avião.”

Anos 90

Nesta edição do Prêmio Multishow, não só os Mamonas Assassinas, mas também outros ícones da década de 90 serão lembrados, entre uma entrega de troféu e outra para os destaques da música em 2014.

“A gente está começando a viver a ressaca dos anos 90”, avalia Stella Amaral, diretora da premiação. “Foi quando o axé e o sertanejo chegaram nos grandes centros, teve mais espaço para o rap, o boom do pagode, foi uma década da alegria.”

Capa do único CD da banda Mamonas AssassinasReprodução

Apresentado por Paulo Gustavo, Ivete Sangalo, Tatá Werneck e Didi Wagner, a festa vai promover sete encontros musicais para reviver a época, resgatando nomes como Buchecha, É o Tchan, Daniela Mercury, Gabriel O Pensador, BNegão, Zezé Di Camargo & Luciano e Daniel, que vão se misturar a nomes de gerações mais recentes, como Anitta, Emicida e Luan Santana, entre outros.

“Os Mamonas são a personificação desse momento de alegria da década de 90. E o que foi mais especial neles é que, apesar de fazerem um pop rock cômico, eram tecnicamente excelentes. Deixaram uma saudade danada, falar dos anos 90 e não lembrar deles não dá!”, atesta Stella.

Neste encontro-tributo, porém, o momento é de reviver o que de mais legal os Mamonas Assassinas deixaram: a alegria. “Tem que continuar sendo engraçado!”, decreta Lucas Silveira. “Não vai ser aquela coisa póstuma, triste. Eu escolhi fazer um número bem farofento, meio inspirado no Queen, que é uma das minhas bandas preferidas. E sugeri dar uma subvertida nos arranjos originais”, antecipa.

Dinho também detalha o que está preparando: “Pude escolher a música que cantaria. De cara, mandei ‘Sábado de Sol’. E, no final, vamos nos juntar em ‘Vira-vira’.”

Vai ser, de fato, uma homenagem ‘de Dinho para Dinho’. Aliás, ser homônimo do líder do Mamonas proporcionou um outro capítulo hilário na biografia do vocalista do Capital, frequentemente lembrado por ele em entrevistas: “Uma vez ligou uma mina de uma revista. Era a época em que eu estava sem trabalho. A repórter me entrevistou por horas, pegando todos os detalhes da minha vida. E, no final, perguntou: ‘E aí, Dinho, qual a sensação de vender 1 milhão de discos?’ Aí a ficha caiu, né? C*, uma hora falando comigo. Falando com o Dinho errado!”

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