Por daniela.lima

Rio - “Essa ideia de que o palco estava à minha espera me ajudou a superar os tormentos do tratamento.” Arlete Salles está de volta à labuta. Depois de um período afastada do trabalho, lutando contra um câncer, a atriz, de 72 anos, resolveu retornar em grande estilo. Ela está nos cinemas como dubladora da animação ‘Até que a Sbórnia nos Separe’, acaba de estrear a peça ‘O Mordomo Viu’, ao lado de Miguel Falabella, e ainda se prepara para integrar o elenco da próxima novela das 21h, ‘Rio Babilônia’. 

Pela primeira vez juntos no teatro%2C Miguel Falabella e Arlete Salles contracenam em ‘O Mordomo Viu’Paula kossatz/Divulgação


“Me recuperei, estou ótima. Foi um desafio vencido e, agora, pude retomar o trabalho. Tem que ter coragem pra enfrentar. É claro que a gente fica chateada com o diagnóstico (do câncer de mama), mas aí pensa: ‘Vai se entregar ou reagir?’ E eu reagi”, comemora Arlete, cheia de gás. “Tive a sorte de ter um bom tratamento, a que muitas mulheres não têm acesso. O diagnóstico precoce é fundamental. Os índices e estatísticas dessa doença estão alarmante. A saúde pública precisa estar atenta a isso”.

E foi em cima do palco que Arlete teve a certeza de que tinha forças para mais uma longa jornada. Em cartaz com ‘O Mordomo Viu’, no Teatro Clara Nunes, ela contracena pela primeira vez no teatro com o amigo Miguel Falabella. “Já tínhamos trabalhado juntos em novelas, seriados, mas nunca estivemos juntos no palco do teatro. Esse encontro estava marcado em nossos corações e na vida. Eu já tinha ensaiado a minha personagem, Mirta, mas só pude prosseguir com ela agora que meu estado de saúde está bom”, explica Arlete, que chegou a ser substituída por outras atrizes enquanto estava em tratamento. “A peça é um sucesso, já esteve em outras cidades. É como se eu tivesse pegando o trem na última estação”, diverte-se.

Trabalhar ao lado de Miguel é a confiança que Arlete precisava para se sentir mais forte. “É uma alegria imensa. Há um grande carinho entre nós dois e a nossa amizade nunca sofreu um arranhão”. Na coxia e em cena, não faltam boas risadas. “Eu e Miguel temos essa identificação porque levamos a vida de forma bem-humorada. Estamos sempre buscando o lado bom e positivo das coisas e gostamos de fazer as pessoas rirem. A vida nos dá desafios e mais desafios, temos que enfrentá-los com humor. Eu gosto de ser reconhecida como comediante. Não é puxando sardinha para o meu lado, não. Mas a comédia é um dos trabalhos mais difíceis de fazer”, avalia.

No espetáculo do escritor inglês Joe Orton, Arlete vive Mirta, a mulher do psiquiatra Arnaldo (Falabella, que também assina a direção e a versão brasileira do espetáculo). E, diante de uma situação inusitada, o casal se vê no meio de uma relação cheia de segredos e conflitos. Tudo com uma boa dose de humor. “O que há de encantador é que a história é cheia de equívocos. E são esses enganos que provocam as 18 entradas da minha personagem em cena. Existe um tempo certo para eu entrar, para que aconteçam essas situações de comédia. Nos primeiros dias de ensaio, eu errava. Foi um verdadeiro terror. Tenho pavor de errar as entradas, mas agora está tudo em ordem ”, garante.

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