Por nicolas.satriano

Rio - Um novo olhar sobre o Rio de Janeiro, meio estrangeiro, poético e bem distante do lugar-comum para gringo ver. Entre um chope em Quintino e uma pelada em Campo Grande, o jornalista e poeta Valmir Moratelli desnudou a Cidade Maravilhosa, contando em versos as dores e amores de seus moradores a partir de histórias reais e imaginárias descritas em seu primeiro livro, ‘Eu Rio, Tu Urcas, Ele Sepetiba’ (Editora Buqui, 200 págs., R$ 35).

Como cenário, os 150 bairros e sub-bairros da cidade, que está prestes a completar 450 anos.
Para esse carioca nascido no Jabour — entre Bangu e Campo Grande —, morador do Recreio e trabalhador do Centro, a cidade tem muito a mostrar para quem se abre para o desconhecido de suas ruas, vielas, avenidas e, claro, de seus personagens únicos no planeta.

“O carioca se julga acima do bem e do mal. Tem a resposta para tudo e tem um jeito malandro de levar a vida mais leve e ir empurrando os problemas para frente, como a despoluição da Baía da Guanabara. Mas não admite que ninguém além dele fale mal do Rio”, reconhece Valmir, que começou a escrever os poemas no ano passado.

“Já tinha escrito sobre alguns lugares quando me dei conta de que seria decepcionante para o leitor não encontrar o seu bairro”, conta Valmir, que, para levar o projeto adiante, reservou todos os fins de semana para conhecer sua cidade de ponta a ponta.

“Descobri Higienópolis. Achava que era um bairro que só existia em São Paulo”, diz o autor, que tentou fugir dos clichês dos cartões de visita que apresentam o Rio aos turistas. 

Valmir Moratelli posa na mureta da Urca%2C um dos bairros citados no título de seu livro%2C que tem prefácio do compositor Martinho da VilaFernando Souza / Agência O Dia

“Não tive a pretensão de contar a história de cada bairro, até porque ficaria muito didático. Busquei a alma dos locais sob o meu ponto de vista”, revela Valmir, que, em suas andanças, não deixou escapar nenhum bairro.

“Fiz questão de visitar cada um deles, claro que em alguns não precisei ir para fazer o livro. Já os conhecia por morar e circular na cidade”, diz.

A leitura do livro, que será lançado quarta-feira, na Livraria da Travessa de Botafogo, é um convite para uma viagem de descobertas de carona nos mais de cem poemas geográficos. A ideia, segundo o autor, foi redividir a cidade, sem suas zonas Norte e Sul.

“O grande trunfo do Rio é o fato de ele ser unido por um jeito de ser diferente, casual, praiano. Em outras cidades litorâneas, só tem esse estilo quem mora perto do mar. No Rio, não importa onde se vive. Há sempre o ritual de ir à praia. O mar é muito presente”, observa o escritor.

Valmir acredita que o livro vai mostrar um novo Rio — balneário-metrópole — ignorado pela maioria dos moradores. O autor dedica alguns capítulos a lugares emblemáticos como o Sambódromo, as linhas Amarela e Vermelha e às favelas cariocas. “Cantagalo na Rocinha, que os Prazeres do Alemão são Complexos demais."

A poesia serviu de inspiração para o compositor Martinho da Vila deixar um recado aos cariocas no prefácio do livro. “Paro por aqui, vilaisabelando. Já logrei por todos estes logradouros, mas vocês, leitores, devem ir em frente. Será bom pois: ficam todos tijucados, paquetados, humaitados, realengando, guaratibados. Sejam felizes!”, disse Martinho, que é natural do município de Duas Barras e se ‘cariocou’ em Vila Isabel.


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