Por clarissa.sardenberg

Rio - Cantor que implantou novo estilo de cantar samba, distante do tom descontraído da turma de Zeca Pagodinho e mais próximo do fraseado do soul e r & b norte-americanos, Belo devia disco solo à altura de sua voz. Desde que deixou o grupo Soweto, com o qual se projetou na década de 1990, Belo gravou CDs irregulares, alguns bem ruins. ‘Mistério’, disco lançado este mês via Sony Music, é o melhor título da discografia solo do artista. No CD, produzido por Umberto Tavares, Belo flerta com o requinte da MPB e faz dueto com Ivete Sangalo (na canção ‘Linda rosa’) sem abandonar o pagode romântico, estilo que tem lhe garantido público ardoroso e fiel o suficiente para ignorar as atribulações da vida pessoal do artista.

Belo lança ‘Mistério’%2C disco de inéditas no qual procura renovar sutilmente seu somDivulgação/ Sony Music

Faixa que abre o disco, ‘Feliz’ exemplifica a tentativa de Belo de sofisticar seu som. A introdução da música é feita em clima bossa-novista. À medida que a faixa avança, ouve-se cordas no arranjo de arquitetura delicada. A canção que dá nome ao disco, ‘Mistério’, é de Jorge Vercillo e reforça a intenção de Belo de renovar de forma sutil seu repertório e som. O tom camerístico da balada ‘Mesmo sem entender’ também está em sintonia com o refinamento de parte dos arranjos.

Para quem prefere ouvir Belo ao som de um pagode romântico, o álbum oferece músicas como ‘Porta aberta’ e ‘Vi amor no seu olhar’. Em linha similar, ‘Voyeur’ é samba de tonalidade sensual. Já ‘Fui eu’ põe pitada de ‘black music’ na receita, aditivada com o ronco de uma cuíca em ‘Montanha russa’.
Mesmo sem cacife para impor um esquema novo para o samba de Belo, o disco tem bom acabamento. A ponto de nem surpreender quando sintoniza citação de ‘Mas que nada’ (1963), primeiro sucesso de Jorge Ben Jor, entre as interferências e ruídos inseridos na faixa ‘Caso sério’. Esse moço tá diferente!

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