Por daniela.lima
Rio - Como um retrato de boa parte da sociedade atual, ‘Boa Sorte’ mistura o drama e a comédia do dia a dia de jovens como João (João Pedro Zappa). Ele se sente cada vez mais invisível, enquanto seus pais (Felipe Camargo e Gisele Fróes) estão muito ocupados com eles mesmos. Daí o jovem de 17 anos chega a uma descoberta, quase mágica, derivada da mistura dos calmantes da mãe com doses de Fanta. É a válvula de escape para um ambiente familiar corrompido e um mundo que parece ser o espelho de sua própria casa. 
Os atores Pedro Zappa e Deborah Secco%2C protagonistas de ‘Boa Sorte’Divulgação


Quando o comportamento de João já não pode mais ser ignorado pela família, a decisão tomada é terceirizar o problema. O adolescente é internado em uma clínica de reabilitação, onde, paradoxalmente, ele começa a descobrir algum sentido para viver.

Esse sentido tem nome e se chama Judite (Deborah Secco). Ela, uma junkie soropositiva em estado terminal, desperta no personagem de Zappa mais do que o primeiro e mais puro amor. Mesmo com a sombra da morte a todo o momento ao seu lado, Judite é dona de uma força de vida tão avassaladora quanto a paixão que desperta em João.

Baseado no conto ‘Frontal com Fanta’, de Jorge Furtado — que assina o roteiro junto a seu filho Pedro —, o longa é dirigido por Carolina Jabor com mão firme. A trama é maestralmente conduzida por ela e capaz de manter um ritmo envolvente, impregnado de uma sutileza e sensibilidade ímpares.
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Tudo vai bem até o momento que antecede as cenas finais de ‘Boa Sorte’. A fotografia é impecável, a interpretação dos atores veteranos, como Deborah e Gisele, é excelente. Pedro Zappa deixa evidente que tem grande talento. Com papéis pequenos, mas não menos importantes, Fernanda Montenegro (avó de Judite) e Pablo Sanábio (interno da clínica) roubam os holofotes quando aparecem.
Por todos esses pontos positivos e elementos fílmicos em harmonia, fica difícil entender a guinada estrutural que se dá nas últimas cenas do longa. Parece até outro filme, que, ao tentar explicar de mais o que qualquer um pode entender sem nenhum diálogo, acaba comprometendo um trabalho tão bonito como ‘Boa Sorte’.
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