Por tiago.frederico
Rio - Chorar com Heloísa Périssé era algo inimaginável até bem pouco tempo atrás, afinal fazer rir sempre foi a sua especialidade. Mas o cardápio de talentos da atriz é farto, com direito a um impecável tempero dramático. Se a Monalisa de ‘Avenida Brasil’ teve lá os seus momentos de dor, o que dizer da Beatriz de ‘Boogie Oogie’? Submissa e sofrida, ela traiu o marido Elísio (Daniel Dantas) no passado, teve a sua infidelidade descoberta, foi expulsa de casa e agora se encontra perdida. Como consolo, caiu nos braços do povo.
“As mulheres perdoaram a Beatriz e isso foi uma surpresa para mim, porque pensei que ela ia ser execrada. Elas querem um amor romântico, apaixonado. O Elísio não é um marido ruim, é um homem correto, dedicado à família, mas é autoritário, machão, não sabe elogiar a mulher. E a vida não é só comida e casa arrumada, né?”, acredita.
Atriz nunca se viu dependente de um homem nem abriria mão de seus sonhos%2C ao contrário de sua personagemBruno de Lima / Agência O Dia

Curiosamente, Heloísa, que é evangélica, busca na Bíblia uma defesa para Beatriz, que teve um caso extraconjugal com Paulo (Caco Ciocler). “Jesus conteve a multidão que queria apedrejar Maria Madalena dizendo: ‘Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra.’ É difícil a gente julgar o que é certo ou errado, porque a humanidade inteira tem telhado de vidro. Cada um sabe onde o seu calo aperta.”

No quesito infidelidade, o calo de Périssé, casada há 12 anos com o diretor de TV e cinema Mauro Farias, nunca apertou. Mas, apesar da sua inexperiência no assunto, a atriz tem ideia de como agiria diante de uma pulada de cerca. “Eu perdoaria uma traição. Na minha vida, nunca passei por uma situação de trair ou ser traída. Meus casamentos simplesmente acabaram. Traição é uma dor muito grande, uma punhalada pelas costas, algo que a pessoa não está esperando. Mas eu acho que serve para você se questionar. A pessoa não te traiu à toa, onde você faltou? Será que você não deveria ter mexido em alguma coisa nas suas atitudes para que isso não acontecesse? Não existe culpa e culpado. Toda história tem dois lados”, analisa.

A atriz na pele da sofrida Beatriz%2C de ‘Boogie Oogie’ Divulgação/TV Globo

Independente, Heloísa não consegue se imaginar na posição de submissão que a Beatriz de ‘Boogie Oogie’ viveu durante anos. “O Elísio jamais seria um marido para mim. Seria ele ou eu. Não dá para negociar. Eu acho triste a mulher que se anula por causa de um homem. Eu sou feroz no meu querer, traço uma reta e vou em frente. Me anular, abrir mão dos meus sonhos eu não consigo”, afirma. Manter um casamento a qualquer custo é algo que, definitivamente, também não faz a cabeça da atriz. “Às vezes, a gente suporta coisas pelos filhos. Mas isso por um tempo. Ninguém aguenta ser infeliz a vida inteira. E eu não acho que isso seja a melhor solução, porque uma hora você vai jogar na cara. A conta é muito alta. É melhor você não fazer sacrifícios para manter um casamento. Ninguém é responsável pela sua felicidade, nem pela sua infelicidade. Você permite ou não. A dependência emocional pesa, complica, aprisiona”, comenta.

O discurso típico de uma mulher bem-resolvida, no entanto, não deve ser confundido com autossuficiência. “O casamento é uma eterna negociação, não tem como ser diferente. O meu marido acha, por exemplo, que eu trabalho demais. Ele sempre chama a atenção em relação aos meus excessos nesse sentido. Então, eu paro, penso e negocio”, conta.

Heloísa Périssé com Ingrid Guimarães no seriado ‘Sob Nova Direção’Divulgação/TV Globo

A negociação é tão bem-sucedida que Heloísa e Mauro já trabalharam juntos — no seriado ‘Sob Nova Direção’ e no filme ‘O Diário de Tati’ — e estão prontos para repetir a dose. “Vou transformar a minha peça ‘E Fomos Quase Felizes Para Sempre’ em filme e o Mauro, além de assinar o roteiro comigo, vai dirigir. Acho ótimo trabalhar com o meu marido. É sempre um prazer estar com o Mauro, que é uma ótima companhia para trabalhar, viajar, para tudo”, declara-se. Mas o que será que eles fazem para driblar as inevitáveis brigas de casal? “É complicado se tem uma briguinha, mas você está tão imbuído no trabalho que não tem muito tempo para ficar discutindo. Nós estamos juntos há 12 anos, já brigamos muito, já fizemos as pazes muitas vezes. Hoje em dia, cansamos de brigar. Um já sabe até onde o outro pode ir. Dá para trabalhar junto numa boa. O meu marido é um príncipe”, elogia, complementando. “O segredo de um casamento feliz talvez seja saber brigar, entender que o amor é maior.”

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E por falar em amor maior, Heloísa não vê a hora de dividir o palco com as suas duas filhas: Luiza (da união com Lug de Paula), de 15 anos, e Antônia, 8, fruto do casamento com Mauro. “Como estou sem tempo, estou escrevendo a passo de cágados uma peça para as duas (risos). E eu quero atuar com elas, que são muito engraçadas e querem ser atrizes. Luísa é moleca como eu era, já a Tonton tem outro tipo de graça”, diz, sem esconder a corujice.
A agenda sempre lotada não impede que Heloísa acompanhe de perto a vida das suas meninas. “Meu lado maternal é muito forte. Estou ligada nelas o tempo inteiro. Falo com Luiza pelo WhatsApp, porque estou proibida de ligar para ela. Mas, para Tonton, que ainda não é adolescente, eu posso ligar (risos). A vida delas é assim: Tonton pedindo que eu volte logo para casa e Luiza sempre querendo se livrar de mim (risos). Eu tenho uma Tati em casa”, brinca, fazendo uma alusão à personagem adolescente que foi aluna da ‘Escolinha do Professor Raimundo’, migrou para um quadro do ‘Fantástico’ e virou filme.
Heloísa Périssé na pele da adolescente Tati%2C que nasceu na ‘Escolinha do Professor Raimundo’%2C ganhou quadro do ‘Fantástico’ e virou filmeDivulgação/TV Globo

Com humor afiado e os pés fincados no chão, Heloísa, que reestreia a peça ‘E Foram Quase Felizes Para Sempre’ dia 2 de janeiro no Teatro dos Grandes Atores, foge do posto de estrela intocável. “Eu sou uma mulher simples, do povo. Uma coisa que não aceito mais na minha vida é presente. Porque o presente que eu quero é um Jaguar, um Rolex, um avião, e isso a pessoa não vai me dar (risos). Só aceito presente se for cesta básica para doar no asilo que eu ajudo.O que eu quero agora da vida é poder ajudar e servir a quem precisa.”

PAIXÃO POR OBRAS

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Cada um tem a sua mania. E Heloísa Périssé tem uma bem peculiar: fazer obras. “Fico emocionada vendo o pedreiro construindo um muro. Eu tenho vontade de pedir um autógrafo para ele. Obra é um negócio que eu amo! É claro que dá um nó na vida da gente, mas quando o nó se desfaz é tão lindo. Eu gosto tanto que, se eu não fosse atriz, eu seria cuidadora de obra. Eu faria um levantamento de tudo para a pessoa só voltar para a casa na hora de colocar as flores no jarro”, diz a atriz, que, no momento, está reformando a sua residência.
ZERO VAIDADE
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Não usar um pingo de maquiagem em ‘Boogie Oogie’ não é problema para Périssé. Pelo contrário. “Eu sou zero vaidosa, então eu achei ótimo quando eu vi o visual da Beatriz. Fiz tanta comédia que eu sou acostumada a segurar no carisma (risos). Eu só gosto de perfume, sapato e joia. Então, eu podia andar nua, perfumada e com um brinco na orelha (risos). Eu acho que menos é mais. Gosto da não maquiagem, da roupa simples. Claro que gosto de me vestir bem, mas de forma básica e bonita.”