Curiosamente, Heloísa, que é evangélica, busca na Bíblia uma defesa para Beatriz, que teve um caso extraconjugal com Paulo (Caco Ciocler). “Jesus conteve a multidão que queria apedrejar Maria Madalena dizendo: ‘Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra.’ É difícil a gente julgar o que é certo ou errado, porque a humanidade inteira tem telhado de vidro. Cada um sabe onde o seu calo aperta.”
No quesito infidelidade, o calo de Périssé, casada há 12 anos com o diretor de TV e cinema Mauro Farias, nunca apertou. Mas, apesar da sua inexperiência no assunto, a atriz tem ideia de como agiria diante de uma pulada de cerca. “Eu perdoaria uma traição. Na minha vida, nunca passei por uma situação de trair ou ser traída. Meus casamentos simplesmente acabaram. Traição é uma dor muito grande, uma punhalada pelas costas, algo que a pessoa não está esperando. Mas eu acho que serve para você se questionar. A pessoa não te traiu à toa, onde você faltou? Será que você não deveria ter mexido em alguma coisa nas suas atitudes para que isso não acontecesse? Não existe culpa e culpado. Toda história tem dois lados”, analisa.
Independente, Heloísa não consegue se imaginar na posição de submissão que a Beatriz de ‘Boogie Oogie’ viveu durante anos. “O Elísio jamais seria um marido para mim. Seria ele ou eu. Não dá para negociar. Eu acho triste a mulher que se anula por causa de um homem. Eu sou feroz no meu querer, traço uma reta e vou em frente. Me anular, abrir mão dos meus sonhos eu não consigo”, afirma. Manter um casamento a qualquer custo é algo que, definitivamente, também não faz a cabeça da atriz. “Às vezes, a gente suporta coisas pelos filhos. Mas isso por um tempo. Ninguém aguenta ser infeliz a vida inteira. E eu não acho que isso seja a melhor solução, porque uma hora você vai jogar na cara. A conta é muito alta. É melhor você não fazer sacrifícios para manter um casamento. Ninguém é responsável pela sua felicidade, nem pela sua infelicidade. Você permite ou não. A dependência emocional pesa, complica, aprisiona”, comenta.
O discurso típico de uma mulher bem-resolvida, no entanto, não deve ser confundido com autossuficiência. “O casamento é uma eterna negociação, não tem como ser diferente. O meu marido acha, por exemplo, que eu trabalho demais. Ele sempre chama a atenção em relação aos meus excessos nesse sentido. Então, eu paro, penso e negocio”, conta.
A negociação é tão bem-sucedida que Heloísa e Mauro já trabalharam juntos — no seriado ‘Sob Nova Direção’ e no filme ‘O Diário de Tati’ — e estão prontos para repetir a dose. “Vou transformar a minha peça ‘E Fomos Quase Felizes Para Sempre’ em filme e o Mauro, além de assinar o roteiro comigo, vai dirigir. Acho ótimo trabalhar com o meu marido. É sempre um prazer estar com o Mauro, que é uma ótima companhia para trabalhar, viajar, para tudo”, declara-se. Mas o que será que eles fazem para driblar as inevitáveis brigas de casal? “É complicado se tem uma briguinha, mas você está tão imbuído no trabalho que não tem muito tempo para ficar discutindo. Nós estamos juntos há 12 anos, já brigamos muito, já fizemos as pazes muitas vezes. Hoje em dia, cansamos de brigar. Um já sabe até onde o outro pode ir. Dá para trabalhar junto numa boa. O meu marido é um príncipe”, elogia, complementando. “O segredo de um casamento feliz talvez seja saber brigar, entender que o amor é maior.”
Com humor afiado e os pés fincados no chão, Heloísa, que reestreia a peça ‘E Foram Quase Felizes Para Sempre’ dia 2 de janeiro no Teatro dos Grandes Atores, foge do posto de estrela intocável. “Eu sou uma mulher simples, do povo. Uma coisa que não aceito mais na minha vida é presente. Porque o presente que eu quero é um Jaguar, um Rolex, um avião, e isso a pessoa não vai me dar (risos). Só aceito presente se for cesta básica para doar no asilo que eu ajudo.O que eu quero agora da vida é poder ajudar e servir a quem precisa.”
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