Por nicolas.satriano
Rio - No início desta semana correu pelas redes sociais a notícia da morte do ator Joel Barcellos. As lamentações pela perda já ganhavam espaço e se acumulavam quando o próprio, com bom humor, invadiu o espaço virtual para dizer que “comemorou” seu obituário em vida, pois passa muito bem, obrigado.
No jargão jornalístico, notícias que não se confirmam são chamadas de “barrigas”. Muitos famosos já foram vítimas da troca de fichas antecipadas, e Joel com certeza não será o último. Aliás, ele mesmo já havia “morrido” em 2012, após um mergulho em Rio das Ostras e de um suposto e fatal AVC. A velocidade, a pressa em fazer a informação correr, a necessidade do furo são inimigas mortais da informação. É algo a que todos nós estamos sujeitos e que, enfim, mesmo que redobremos a atenção, acontece.
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O melhor, portanto, é relevar o erro e admirar o lado mágico da história. Afinal, a manchete agora é “Joel Barcellos não morreu”. Ora, que bom. Celebremos, então, sua vida. E que vida! Joel é acima de tudo um ator de cinema. Nunca negou sentir-se pouco à vontade na televisão, mesmo sabendo dos riscos que sua opção poderia representar para sua saúde financeira. Mas é bem provável que a experiência intensa de anos trabalhando no cinema tenha sido o principal nutriente de uma vida longeva que hoje se confunde, sem exagero, com a própria história do cinema brasileiro.
Joel trabalhou com os grandes diretores da nossa história, sobretudo a partir dos anos 60. Fazem parte da lista, entre outros, nomes como Ruy Guerra, Cacá Diegues, Leon Hirszman, Paulo César Sarraceni, Neville de Almeida, Hugo Carvana, Glauber Rocha, Antônio Carlos Fontoura, David Neves, Ivan Cardoso e até o italiano Bernardo Bertolucci, de cujo ‘O Conformista’ Barcellos participou, embora seu nome estranhamente não tenha sido creditado. Boa parte dessa história foi resumida no documentário ‘Joel Barcellos: Cinema e Rebeldia’, de Rita Nardelli, de 2013, produzido para a TV Senado, em que o ator narra sua passagem pelo cinema com muita lucidez e mostrando estar, aos 77 anos, passando muito bem, obrigado. Que siga o baile!
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AÇÃO!
‘Cada Vez Mais Longe’, de Eveline Costa e Oswaldo Lioi, estreia nesta quinta-feira com sessões no Instituto Moreira Salles. Filme independente, de nítido viés conceitual, aborda o assoreamento da Baía de Sepetiba a partir da história de um pescador, João, e sua mulher, Isaura.
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Com a agressão ambiental, João é obrigado a levar seu barco cada vez mais longe para pescar, o que afeta irreversivelmente o relacionamento com a mulher. Num filme praticamente sem diálogos, em que o tempo e a natureza são também protagonistas, Eveline e Oswaldo nos colocam diante do drama ambiental sem afundar na obviedade do discurso politicamente correto, com poética própria e imagens que nos fazem refletir sobre como o desequilíbrio forçado da natureza afeta as nossas vidas, direta ou indiretamente.