Lançado pela Som Livre, ‘Cantigas de Garagem’ marca a volta de Digão, Canisso, Marquim e Caio às grandes gravadoras
Por tabata.uchoa
Rio - ‘Vira-lata corre solta, deixa molecada tonta/quer subir na minha cama, todo dia ela apronta”, cantam os Raimundos em ‘Cachorrinha’, música de abertura do CD/DVD ‘Cantigas de Garagem’. Os mais maldosos podem tirar os cavalinhos da chuva: a música se refere a uma cadelinha vira-lata, a Latinha, que o guitarrista e vocalista Digão adotou após encontrá-la numa oficina de motos. Nada a ver com o discurso malicioso de sucessos do grupo, como ‘Puteiro em João Pessoa’ (por sinal resgatada para o DVD, gravado em estúdio).
“A Latinha acompanhou toda a gravação. Ficava ali por perto e fazendo tudo aquilo mesmo: rasgando o lixo da vizinha, fugindo pelo portão”, brinca Digão. “Hoje ela está na fazenda do meu pai e está bem feliz. Quando a pedi para o dono, na oficina, ele me encarou: ‘Vai cuidar bem dela? Eu amo essa cachorra!’”
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Latinha não é a única musa dos Raimundos. ‘Cera Quente’ fala sobre um casal que vai fazer sexo e, antes do rala e rola, o rapaz descobre que sua acompanhante lembra “a ‘Playboy’ da Claudia Ohana” (a atriz posou para a revista em fevereiro de 1985, e chamou a atenção pelo excesso de pelos pubianos). “Quem nunca viu a ‘floresta amazônica’ da Claudia Ohana?”, brinca o guitarrista. “Ficou marcada, a gente adora divagar sobre isso. Mas, na música, ele vê que a mulher lembra a Claudia e isso dá um trauma nele. De qualquer maneira, é uma homenagem.”
Lançado pela Som Livre, ‘Cantigas de Garagem’ marca a volta de Digão, Canisso (baixo), Marquim (guitarra) e Caio (bateria) às grandes gravadoras, após 13 anos de independência. E sai imediatamente depois de ‘Cantigas de Roda’, disco gravado e lançado por crowdfunding (apoio financeiro dos fãs). “Raimundos é uma realidade no mercado. Tem muita coisa boa prevista para nós em 2015”, diz o músico, que abre com sua banda os shows dos Foo Fighters em São Paulo (sexta), Belo Horizonte (domingo) e Rio de Janeiro (dia 25).
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O repertório do DVD inclui as 12 músicas do CD anterior (entre elas ‘Baculejo’, ‘O Gato da Rosinha’ e as próprias ‘Cachorrinha’ e ‘Cera Quente’), mais sucessos como ‘Bê a Bá’ e ‘Puteiro...’. Frankokaos (do grupo Galinha Preta) solta a voz em ‘Cachorrinha’, o rapper Cipriano aparece em ‘Politics’ e Sen Dog (do Cypress Hill) faz raps em ‘Dubmundos’. Essa música, por sinal, traz vários versos de alto teor ‘maconheirístico’ (como “dichava, recheia a seda, I like the ganja”). Ainda assim, Digão diz já ter se cansado de maconha.
“Parei de fumar há dez anos e gosto da forma como vivo hoje”, diz ele, 45 anos e pai de dois adolescentes. “Eles sabem das letras dos Raimundos e falo que na época a gente vivia assim. E meus filhos são muito de boa: não se interessam por bebida, cigarro, droga, nada. Mesmo assim, preferiria ter um filho maconheiro do que um filho alcoólatra.”
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O fato de o rock ter sumido das paradas de sucesso e das rádios não assusta Digão. “O rock é o filho bastardo, o filho que não se rende às comparações. E é o que vai adiante pelos próprios pés. O que eu vejo que faz sucesso hoje em dia é comprado, fabricado”, reclama.
Rock e MPB para as raspadinhas
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Claudia não foi cantada só pelos Raimundos, não. O humorista Zéu Britto lembrou da ‘Playboy’ da atriz em ‘Hino de Louvor às Raspadas’ (“vou te emprestar meu Prestobarba/pois quero te ver raspada”). “O brasileiro é debochado, né? Só pensam em bunda, peito...”, diz Claudia, que não sabia da música dos Raimundos.