Rio - Não há céu azul, jardins verdejantes, flores coloridas e pássaros que cantam belas melodias. Não há pessoas felizes, redenção, heróis vingadores e damas em perigo. Passeando por um cenário soturno, a protagonista pisa sobre a sujeira que, todos os dias, se vê obrigada a limpar. Enquanto isso, seu cão, com capacidade de observação aguçada e humor ácido, a incita a se rebelar contra a madrasta que a oprime. Numa primeira análise, os elementos acima podem remeter a uma versão mais sombria de Cinderela. Mas acredite: o mergulho é bem mais fundo.
‘Cinza’, musical escrito e dirigido por Jay Vaquer que estreia hoje no Teatro Oi Casa Grande, no Leblon, tem sua inspiração inicial em ‘Rhodopis’ — texto grego que data do século 1 antes de Cristo e que serviu de inspiração para o francês Charles Perrault escrever ‘Cinderela’. A partir dele, a peça faz uma análise psicológica da personagem C, protagonista da trama, uma jovem que perde a mãe, tem um pai apático e entra numa viagem emocional para se encontrar — no trajeto, terá que lidar com questões que envolvem sexo, ódio, moral, religião, morte, preconceito e poder. A narrativa é conduzida por 37 canções, todas compostas por Vaquer.
A história de ‘Cinza’ é contada ao longo de 125 minutos, divididos em dois atos de pouco mais de uma hora. A interpretação fica a cargo de 11 atores/cantores e as canções são executadas ao vivo por uma banda formada por cinco músicos. A preparação vocal do elenco ficou por conta da cantora Jane Duboc. O design de som foi concebido por Moogie Canazio, três vezes indicado ao Grammy na categoria Engenharia de Som e vencedor do prêmio pelo álbum ‘Voz e Violão’, de João Gilberto.