Por daniela.lima
Rio - Fallujah, Iraque. Início da década de 2000. Primeira fase do conflito entre as forças dos Estados Unidos e as tropas de Saddam Hussein após o atentado terrorista de 11 de setembro. O sol intenso ilumina tudo. Uma mulher e uma criança caminham por uma rua menos movimentada da cidade destruída pelos bombardeios. Ela usa um véu. O menino, roupas marrons. 
Chris Kyle (Bradley Cooper%2C à direita) encara todos os dias o dilema de puxar ou não o gatilhoDivulgação


Tentam ser discretos, tentam não chamar a atenção. Há um motivo para isso: os dois carregam uma bomba e se preparam para lançá-la na direção de um grupo de Navy Seals, unidade de elite da Marinha americana, que está parado a poucos quarteirões de distância. Estão prestes a atingir o objetivo. No entanto, do telhado de uma das casas, mãe e filho são observados pelo atirador de elite (‘sniper’, em inglês) Chris Kyle. Diante dele, há uma decisão a ser tomada. Tão difícil que faz com que sua cabeça ferva bem mais que os 50 graus de temperatura do local: atirar ou não?

Foi esse tipo de dilema moral que atraiu Bradley Cooper para ‘Sniper Americano’, no qual vive Chris Kyle, o atirador mais letal da história das forças armadas norte-americanas — segundo registros oficiais, 160 pessoas tombaram depois de visadas pela mira de seu rifle .300 Winchester Magnum.
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“Eu queria entender essa situação: um homem que vai a uma zona de conflito, se vê obrigado a matar pessoas e, logo depois do trabalho feito, tem que voltar para casa, para o convívio com a família. Estava interessado em compreender como funciona essa gangorra emocional. Não se trata necessariamente de um filme de guerra, mas sobretudo de um estudo de personagem. Essa realidade dos veteranos de guerra sempre teve muito apelo para mim”, avalia Cooper.
A produção, que estreia nas telas brasileiras no próximo dia 19, é uma adaptação da biografia do atirador, escrita por Jim DeFelice e Scott McEwen, cuja edição brasileira chegou às livrarias via editora Intrínseca. O longa recebeu indicações para o Oscar em seis categorias: Filme, Ator (Cooper), Roteiro Adaptado, Montagem, Edição de Som e Mixagem de Som. Clint Eastwood — um dos maiores nomes vivos do cinema americano — dirigiu o longa, mas acabou fora da disputa. Não que ele se importe muito — as reações que tem recebido o deixam bem mais animado.
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“As pessoas que viram o trailer têm comentado que percebem que, em ‘Sniper Americano’, há bem mais que apenas um filme de guerra. Que existem coisas mais profundas ali. Para mim, esse é o melhor dos elogios. É como um filme de Velho Oeste que vai além dos tiroteios”, analisa o diretor, que já conquistou o Oscar por ‘Os Imperdoáveis’ e ‘Menina de Ouro’.
Além de todo o aspecto psicológico que envolve interpretar um personagem que se viu obrigado a matar tantas pessoas, Cooper também teve de aprender a atirar com o armamento utilizado por Kyle durante o confronto no Iraque e, sobretudo, conquistar um condicionamento físico semelhante aos dos Seals — o que é visível nas imagens do filme. O ator teve que ganhar 18 quilos, o que foi conseguido por meio de uma rotina pesada de exercícios e uma dieta de seis mil calorias diárias.
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“Quando vi os primeiros registros do filme, tive a impressão de que haviam me ‘bombeado’”, Cooper lembra.“Eu olhava para ele e pensava no desenho do Johnny Bravo. Muito forte e sempre comendo alguma coisa — comida, barras e shakes de proteína”, brinca Eastwood. “Ridículo”, finaliza o ator.
SNIPER AMERICANO *** Cotação: Muito bom 
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Não é à toa que ‘Sniper Americano’, de Clint Eastwood, vem gerando polêmica. Embora o filme mostre o lado negativo da guerra — como as sequelas psicológicas de Chris Kyle (Bradley Cooper) e as diversas mutilações e mortes de seus colegas —, o personagem principal é retratado como herói. Conhecido como ‘A Lenda’, Kyle vira ídolo de seus companheiros por conta de sua mira certeira. Nacionalista, participa da guerra por quatro vezes por vontade própria — tudo para defender seu país do inimigo. Em seu papel mais desafiador, Cooper convence como o homem que surge na tela humanizado, em conflito na hora de atirar, traumatizado após a guerra. Sienna Miller (irreconhecível), que vive a mulher do Sniper, emociona. No fim das contas, apesar de deixar clara a admiração por seu personagem, Eastwood mostra mais uma vez como domina a arte de fazer cinema.
Reportagem: Kamille Viola
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VISÕES DIVERGENTES

Desde que estreou nos Estados Unidos, em dezembro, ‘Sniper Americano’ tem sido alvo de uma série de críticas por conta da abordagem norte-americana em conflitos com outros países. O cineasta Michael Moore disse que “com o filme, aprendemos que snipers são covardes”. Já o ator Seth Rogen comparou a produção à propaganda nazista.
“Todos têm direito a uma opinião, mas infelizmente essas pessoas não entenderam a história de Chris Kyle. Convivi com ele durante muito tempo. Era um bom homem e ótimo pai de família. Ele fez uma escolha: por amor ao país, decidiu se tornar um sniper e pagou um preço por isso. E atiradores não são covardes. Eles estão lá para garantir que apenas alvos certos sejam atingidos”, avalia Jim De Felice, um dos autores da biografia do Seal.
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“Na verdade, o filme é antibelicista de muitas maneiras. Mostramos o quanto essas pessoas doam seus esforços e tempo para lutar em guerras que não podem ser vencidas”, avalia Eastwood.
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