Por daniela.lima
Rio - O documentário ‘Cássia Eller’, que estreia hoje nos cinemas do Rio, é mais do que um filme de apelo imediato para os fãs da versátil intérprete brasileira. É um retrato da vitalidade explosiva, da criatividade autoral, da particularidade cênica e sobretudo da atitude diante da vida de uma artista carimbada pela originalidade. São duas horas cravadas que fazem jus ao talento da biografada, equilibrando o registro documental a uma alta voltagem de energia musical ao estilo de Cássia, que variava de Piaf a Kurt Cobain, de Cazuza a Riachão, sempre afinada pelo diapasão do rock’n’ roll. 
Ricardo Cota%3A Cássia Eller renasce nas telas de cinemaarquivo pessoal


Baseado em sólida pesquisa de Antônio Venâncio, um dos maiores pesquisadores do audiovisual brasileiro, ‘Cássia Eller’ recorre a um forte arquivo de imagens para resgatar tanto a trajetória artística da compositora e cantora como também para traçar e realçar os aspectos únicos de sua personalidade. Do início da carreira em Brasília à consagração da antológica performance no Rock in Rio 3, em 2001, são exibidas imagens poderosas de Cássia no palco, contrapostas a outras que revelam aspectos de uma desconcertante timidez monossilábica, sobretudo nas inúmeras entrevistas que, a nítido contragosto, ela foi obrigada a dar no decorrer da vida breve.

Cabe ao diretor Paulo Henrique Fontenelle, cuja maturidade se afirma a cada novo filme, elaborar o amplo painel que revela a fenda entre a imagem da Cássia Eller propagada pela mídia, da qual seria vítima mesmo depois de morta, e a do dia a dia, voltada para uma vida mais pacata entre os seus e as suas. Pacata, claro, dentro do estilo Eller de ser, sem abdicar de sexo, drogas e rock’n’roll. O documentário aproxima-se, assim, dos dois anteriores realizados por Fontenelle: ‘Loki’ e ‘Dossier Jango’, em que o desafio era constituir imagens respectivamente do músico e compositor Arnaldo Batista e do Presidente João Goulart que fugissem às convenções impostas pela mídia.
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E é isso que faz de ‘Cássia Eller’ um filme para além do interesse dos admiradores. Os temas subjacentes engrandecem o filme.Dentre os quais, a relação com as consequências do sucesso, como as temporadas extenuantes, a exposição pública, a distância familiar e a fatura alta cobrada por tudo isso. A ausência de comportamento ético da mídia também contribui para lançar o filme em outro patamar, sobretudo após a morte da cantora. A imagem de doidona, descompensada, provocativa e “sapatona” despudorada desaba sobre Cássia e ameaça tirar a guarda de seu filho da companheira Eugênia, levando a um processo judicial cuja sentença, inédita, felizmente não desmantelou a família. É o último ato de uma história levada às telas com a devida grandeza e dignidade que ratifica o que todos já sabiam: Cássia Eller não morreu.
AÇÃO!
*O Cine Joia realiza amanhã, às 20h, sessão especial do documentário ‘Cássia Eller’, seguida de debate com as presenças do diretor Paulo Henrique Fontenelle, da jornalista Andrea Cursino e deste colunista. Esperamos vocês lá. O endereço do Joia é Avenida Nossa Senhora de Copacabana 680.
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