Por daniela.lima

Rio - Márcio Victor, do Psirico, não conseguiu um hit tão avassalador quanto ‘Lepo Lepo’ no Carnaval de 2015. ‘Tem Xenhenhem’, nova música do grupo, teve sucesso bem mais discreto. O cantor chamou mesmo a atenção ao ter uma crise de apendicite em pleno Carnaval e ter puxado o trio, logo após a cirurgia para a retirada do apêndice. Mas Márcio batalha para continuar nas paradas e planeja unir Rio e Bahia no Carnaval do ano que vem. Com o apoio de amigos como Caetano Veloso e o percussionista, cavaquinista e compositor Pretinho da Serrinha, ele solta nas ruas cariocas em 2016 o Bloco da Ciata — referência à histórica Tia Ciata (1854-1924), baiana de Santo Amaro da Purificação (terra de Caetano) influente na formação e no desenvolvimento do samba no Rio. 

Márcio VictorDivulgação


“Vamos sair todos vestidos de baianas e contar a história do começo do samba. Vai ser um espetáculo de verdade, deve ter até show de abertura de alguma banda do Vidigal. No roteiro, vai ter uma música do Caetano chamada ‘Onde o Rio é Mais Baiano’, que fala da Tia Ciata, da ida dela para a Mangueira. Em agosto, vai rolar um esquenta e em fevereiro vamos sair”, anuncia o cantor, fazendo planos também para que o cineasta americano Spike Lee dirija o DVD-documentário comemorativo de 15 anos de Psirico, previsto para ser gravado em novembro em Salvador, com participações de Caetano, Ivete Sangalo, Carlinhos Brown e o grupo BaianaSystem.

“Eu já consegui gravar com o Kanye West, pô. Vamos ver se o Spike Lee dá uma risadinha aí para nós”, brinca o músico, que tocou percussões numa gravação feita por Kanye no Brasil em março do ano passado. O rapper americano e o cantor baiano se conheceram na casa da empresária Paula Lavigne. “E a Paula também conhece o Spike. Vamos ver se ela nos coloca em contato. Com o Kanye foi legal, ele é meio marrentão, mas é gente fina, me tratou bem.”

Numa época em que se fala tanto de crise no Carnaval baiano — com poucas vendas de abadás e possibilidade da extinção das ‘cordas’ que separam pagantes de populares —, o homem-psirico diz não ver isso nem de longe. “Pois é, tem gente falando de crise aí, né? Quem tem crise é quem tá com sono, pai!”, brinca. “Tem gente falando que fiz macumba, mas nada disso. Fui é para a igreja rezar. Vendemos mais de quatro mil abadás bem antes do Carnaval, minha música tocou o tempo todo na TV. Estão me chamando até para fazer comercial de moda!”

Ainda assim, riscos sempre aparecem. Márcio lembra que ‘Lepo Lepo’, seu hit de 2014, por pouco não bateu na trave. “Na época, estava começando aquela onda de ostentação na Bahia e a gente vinha com ‘eu não tenho carro, não tenho teto/se ficar comigo é porque gosta’, que era bem diferente. Mesmo assim, abriu portas, a imprensa gostou”, diz o cantor, ciente que um dos maiores sucessos musicais da Bahia atualmente é o chamado arrocha ostentação, de artistas como Neto LX (‘Gordinho Gostoso’).

‘Tem Xenhenhém’, o hit novo, investe na mescla de arrocha, sertanejo e eletrônico, e, assim como ‘Lepo Lepo’, traz mais uma metáfora para sexo no refrão (“a minha balada só acaba/quando a cachaça termina, quando o DJ vai embora/quando eu arrasto uma mina/e depois, xenhenhém”). Márcio não tem o menor medo da patrulha do politicamente correto.

“Cara, politicamente incorreto é o roubo na Petrobras, né? Essa falta de água em São Paulo...”, brinca. “A gente faz música de festa, temos a obrigação de ir direto ao povo que quer dançar. De sexo, até a Globo fala, e na frente de criança. A gente não vende abadá para menores de idade e sempre avisamos que sexo, só com camisinha.”

Mas o hitmaker do axé por pouco não fica fora do evento mais rentável do ano para sua banda. Em pleno sábado de Carnaval, Márcio sentiu fortes dores abdominais e foi encaminhado para o Hospital Aliança, em Salvador. O cantor passou por uma cirurgia de emergência para a retirada de apêndice. Cerca de 14 horas depois, ele foi liberado por seu médico, Heitor Guimarães, para se apresentar no circuito do Campo Grande, onde puxou o bloco Inter. Mesmo medicado com analgésicos, Márcio sentiu incômodos, mas comandou o trio elétrico até o final e se emocionou. Na próxima semana, o cantor sai de férias pela Europa.

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