Rio - A primeira cena de ‘A História da Eternidade’ é a de um cortejo fúnebre pelo sertão. Mas não se engane ao achar que o filme é dedicado a explorar a seca e a pobreza. O primeiro longa de Camilo Cavalcante é construído com toda a experiência adquirida por ele durante os 20 anos que dirigiu curtas-metragens.
Como uma crônica dos dramas humanos, a trama é dividida entre os desejos de três mulheres de um mesmo vilarejo no interior do sertão. A jovem Alfonsina (Débora Ingrid) sonha conhecer o mar, presente prometido por seu tio Joãozinho (Irandhir Santos). Querência (Marcelia Cartaxo) beira os 40 e vive dividida entre manter sua vida fechada pelo luto ou abri-la a novas oportunidades. A última é Das Dores (Zezita Matos), idosa que tem a vida e valores abalados com a chegada repentina do neto que não via desde pequeno.
Os personagens e as situações impostas a elas podem repetir tipos sertanejos já retratados antes. Mas a maestria em que suas histórias vão se cruzando ao longo do filme beira a perfeição. Com ritmo lento, mas envolvente, aos poucos, ‘A História da Eternidade’ vai cativando o espectador e transmitindo até sensações físicas através das imagens.
O filme é responsável por uma das cenas mais bonitas do cinema brasileiro contemporâneo. Após mais de 40 minutos de câmera parada, tudo começa a girar em volta de Irandhir Santos, que, como Joãozinho, o artista incompreendido do vilarejo, interpreta ‘Fala’, que toca na voz de Ney Matogrosso. Daí por diante, todas as vezes em que a câmera se movimenta, o público é presenteado com a mais pura poesia cinematográfica.