Por paloma.savedra

Rio - Os livros de história são valiosos e, quem sabe, até saborosos, com a licença poética do adjetivo. Mas não há nada tão gostoso como repassar os 450 anos do Rio através de um filé alto, coberto de alho frito. Ou de um bolinho de bacalhau. São mordidas reveladoras dos ingredientes de uma cidade que absorve e traduz influências como a portuguesa e a nordestina, e evocam o ambiente único de certos bares onde o carioca pratica a arte do encontro informal, especialidade da casa.

"Você reconhece um povo e sua cultura pela comida, por isso valorizamos o que é tradicional”, opina a publicitária Renata Iannarelli, que se orgulha de frequentar os botequins mais antigos do Rio. Como o Opus, casa de sucos e sanduíches que desde 1968 fez de seus sandubas de carne assada e pernil monumentos da gastronomia popular. “Em todo bom boteco, há pelo menos um pernil chegando por dia no balcão de vidro”, completa o produtor cultural Nano Ribeiro, entre uma e outra mordida na casa do Centro, ao lado da amiga Renata.

Os amigos Nano Ribeiro e Renata devoram os sanduíches de pernil e carne assada do OpusBruno de Lima / Agência O Dia

Na cidade que tem alguns de seus ícones saborosos ligados a estabelecimentos e pessoas, os pratos ganham nomes como Oswaldo Aranha e Leão Veloso, sobrenomes de personalidades por trás das criações. O primeiro diz respeito ao filé com alho frito, farofa, arroz e batatas portuguesas, e tem seu berço no Cosmopolita, da Lapa, invenção do político e diplomata nos anos 1940.

Paulo Leão Veloso, também diplomata, batiza a sopa consistente de frutos do mar nascida no Rio Minho, que ostenta o título de mais antigo restaurante do Rio (aberto em 1884) .

"O Rio é a cidade que tem mais bares antigos no Brasil. Mesmo com a cultura de adorar novidades, a tradição é fortíssima, mexer com certos clássicos pode gerar manifestações. O carioca não quer qualquer cabrito, quer o do Nova Capela”, diz o economista Guilherme Studart, especialista em bares e autor do ‘Guia Rio Botequim’.

Além do exemplo citado, da casa que vira as noites na Lapa, podemos listar itens como os bolinhos de bacalhau do Adonis, em Benfica, que também leva a fama de servir um chope imperdível.

As sardinhas fritas, empanadas na farinha, mantêm viva a tradição de bares como o Ocidental, no chamado Triângulo das Sardinhas, próximo ao Morro da Conceição, no Centro. E a carne seca-acebolada com aipim, fruto da forte imigração nordestina, a partir da década de 50, vive grandes momentos em pontos como o Bar da Amendoeira, em Maria da Graça. A feijoada completa? Também leva a fama de ser carioca, sempre reunindo festas ao seu redor.

Uma boa dica para as comemorações de hoje é a servida no Bar do Mineiro, em Santa Teresa. Com brinde de caipirinha.

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