Por daniela.lima
Zé Ninguém atormentado pelo Espírito de PorcoDivulgação

Rio - É comum ver grafites espalhados por várias partes do Rio. No meio deles, a imagem de um homem laranja, de bigode e chinelo no pé tem se destacado cada vez mais. Estampado pelos muros cariocas, o personagem batizado como Zé Ninguém vem se multiplicando pela cidade há sete anos através dos traços do grafiteiro Alberto Serrano, mais conhecido como Tito. Cada aparição sua corresponde ao capítulo de uma história em quadrinhos a céu aberto, que agora ganha um livro de fotografias homônimo ao protagonista da trama urbana fragmentada em 150 desenhos espalhados pela Zona Sul, Norte, Oeste e Baixada (Edições de Janeiro; 160 págs.; R$ 39,90).

“O livro é a minha visão sobre o começo dessa história que inventei”, diz o nova-iorquino Tito. Filho de um porto-riquenho, ele trocou o Bronx pelo Rio em 2001 e logo se identificou com o que viu por aqui. “O Zé Ninguém é inspirado no meu pai. Ele também usava chinelo, shortinho e bigode quando morávamos no Bronx. Para mim, era engraçado. Mas, quando vim para o Brasil, encontrei um monte de gente que nem ele”, conta o artista.

Instalado no Rio — ele veio por causa da designer carioca Flavia Oliveira, com quem é casado atualmente —, Serrano começou seus primeiros rabiscos, em 2008, nas proximidades da Rodoviária Novo Rio. É o ponto de partida de Zé, que, assim como o seu criador, também desembarcou na cidade atrás de seu amor, a veterinária Ana.

Para quem já viu essas figuras estampadas em algum muro, mas nunca compreendeu de onde surgiram, o livro ‘Zé Ninguém’ desvenda esse mistério. Com as fotografias organizadas em ordem cronológica, é possível entender os motivos que fizeram Zé se perder pelas ruas da cidade atrás de sua namorada.

“Com o tempo, mais personagens foram surgindo, como o vira-lata que acompanha Zé e o espírito de porco que o assombra. Cada um tem sua historinha. Tem o vilão, os amigos e os bichos de que a Ana cuida”, destaca Tito, que escolheu os locais dos grafites sempre dentro da lógica da história.

“Os lugares foram pensados estrategicamente. Por exemplo, o grafite em que o Zé aparece em uma escola foi feito na parede do Ginásio Experimental Olímpico, em Santa Teresa, pois isso se encaixava na história”, conta Serrano sobre o desenho, onde é possível descobrir que, antes de se tornar um andarilho no Rio, o personagem trabalhava como professor.

“Foram muitos anos me dedicando a esse projeto. Agora, depois do livro, pretendo dar umas férias ao Zé e investir mais nas artes plásticas e em exposições de quadros meus. Mas é só um período, no ano que vem ele volta às ruas, com certeza”, garante Serrano.

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