Por tabata.uchoa
O escritor alagoano Graciliano Ramos%2C autor de clássicos como ‘Vidas Secas’%2C em foto de 1952Divulgação

Rio - Quem passa pelo casarão de número 99 da Rua Marquês de Abrantes, no Flamengo, mal pode imaginar a quantidade de histórias que o endereço abriga. A mansão resiste firme às transformações da cidade desde 1912, quando foi construída. Já foi residência burguesa, caiu no abandono, reabriu como espaço cultural e fechou novamente. Mas, amanhã, o Arte Sesc reabre reformado, com a exposição ‘O Cronista Graciliano no Rio de Janeiro’, e prova a vocação da casa como guardiã de memórias cariocas.

“Assim como o casarão, as crônicas de Graciliano (1982-1953) retratam uma parte do Rio de Janeiro que já se foi e outra que permanece viva”, compara a gerente cultural do Arte Sesc, Maria Gouvêa, responsável pela nova programação da instituição. “Queremos pautar projetos assim, aproveitando para entrar nas comemorações do aniversário de 450 anos da cidade”, completa ela, que já prepara outras mostras, de escritores como Rubem Braga e Mário Lago.

A ideia é que o público se envolva com a exposição. Para isso, relíquias do passado foram unidas a tecnologias interativas. Tem o manuscrito da carta que o autor escreveu a Getúlio Vargas após sair da prisão, em 1937, fotos, documentos e vídeos exclusivos, como o depoimento de Luiza Ramos, filha do autor alagoano, que se mudou para cá definitivamente na década de 30.

“Foi no Rio que ele escreveu ‘Vidas Secas’, durante o tempo que morou em uma pensão no Catete. Além de outras obras, como ‘Infância’, ‘Memórias do Cárcere’ e várias crônicas”, diz Ieda Lebensztayn, que assina junto a Thiago Mio Sallae o livro ‘Conversas’ (Ed. Record; 420 págs.; R$ 58), ponto de partida para a criação da exposição.

“Graciliano observava muito as contradições da cidade. É possível perceber isso em textos como ‘Os Passageiros Pingentes’, em que ele observa o egoísmo humano e a diferença das pessoas no bonde”, cita Ieda, que conta como esse meio de transporte, praticamente extinto por aqui, já foi importante para a vida carioca. “Dá para entender parte da história do Rio de Janeiro a partir da leitura de algumas crônicas que destacamos”, conclui.

CASARÃO GUARDA MEMÓRIAS DO RIO ANTIGO

Entre uma muralha de prédios, atualmente, o Arte Sesc é o único casarão do início do século XX ainda de pé na Rua Marquês de Abrantes. Mas, antes de se tornar parte da história da cidade e espaço cultural, o endereço era conhecido como a residência da família do comerciante e empresário Frederico Figner, além de símbolo de casa burguesa da época.

“O casarão está situado em um local muito importante para o Rio. O Flamengo tem o aterro e é ao lado do Catete, onde a viva política do país floresceu por décadas”, lista a gerente cultural do espaço, Maria Gouvêa.

“Graciliano Ramos é certamente um dos maiores expoentes da nossa literatura. Por isso, escolhemos reabrir com uma mostra sobre as crônicas que ele fez da cidade”, justifica ela, que espera envolver o público com a nova programação planejada para o Arte Sesc.

“Pretendemos fazer um trabalho com a vizinhança de resgate da memória do casarão também. Frederico foi uma figura muito marcante e importante na época. Depois da morte da família Figner, muitos acreditavam que os espíritos deles permaneceram circulando pelo local”, conta a gerente cultural, que planeja descobrir outras lendas e fatos relativos ao número 99 da Rua Marquês de Abrantes.

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