Rio - Há uma distância entre Bruno e Letícia — e não é apenas geográfica. Ele, artista plástico, vive no Rio de Janeiro. Ela, publicitária, mora em São Paulo. Cada um em seu mundo. Cada qual com suas prioridades. Após um desvio de rota e um pouso forçado, as vidas dos dois vão se cruzar em um hotel qualquer de Belo Horizonte. Em pouco tempo, ambos descobrirão que aquilo que os separa é algo que pode ser bem maior que os 432,8 quilômetros que existem entre as capitais paulista e fluminense. E será essa separação e também o medo do amor, que fará com que os eventos de ‘Ponte Aérea’, novo filme da diretora Julia Rezende, entrem em movimento.
“Eu queria fazer um filme sobre a dificuldade que essas pessoas, que hoje estão na casa dos 30 anos, enfrentam para criar relacionamentos. Sentia a vontade de mostrar esse desejo que elas têm de estar em uma relação estabelecida e, ao mesmo tempo, o pânico que elas experimentam ao assumir a responsabilidade que o fato de se comprometer de forma séria representa”, explica a diretora, que encontrou a ideia inicial para o filme em ‘Amor Líquido’, livro do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que investiga a fragilidade e superficialidade dos relacionamentos em nossos dias.
É após o encontro no hotel que Bruno, vivido por Caio Blat, e Amanda, interpretada por Letícia Colin, terão que encarar uma série de circunstâncias que testará a resistência de um amor recém-descoberto. A começar pelo momento profissional experimentado pelos dois: enquanto ela, ainda muito jovem, chefia o setor de criação de uma grande agência de publicidade em São Paulo e coloca as obrigações do trabalho em primeiro lugar, ele tem uma existência que não é irresponsável, mas é bem mais descompromissada à beira da orla carioca.
“É um personagem muito especial, pois ele poderia ser meu amigo, é alguém muito próximo da minha realidade. Ele vive de uma forma muito leve, não carrega compromissos, como se estivesse numa extensão da adolescência. E também não se entrega aos relacionamentos, evitando se envolver de forma profunda”, descreve Blat.
E é esse medo de uma relação mais sólida que vai fazer com que a história de Bruno e Amanda se movimente entre várias idas e vindas na ponte aérea que liga Rio e São Paulo. Tanto que as duas cidades quase podem ser consideradas personagens dentro da trama.
“São cidades muito diferentes, com ritmos e culturas próprias. Acho que são complementares. O Rio te oferece uma paisagem deslumbrante, qualidade de vida e de lazer. Em São Paulo, você se sente mais numa metrópole, com uma oferta impressionante de informação e serviços. Aproveito bem as duas cidades”, reflete Blat, paulistano que vive no Rio há muitos anos.
E se o medo de um relacionamento sério representa barreira quase intransponível para um amor duradouro, o afastamento físico, ainda que menos complexo, também cria impedimentos, o que leva a uma pergunta bem conhecida: é possível manter uma relação à distância?
“Acho difícil, o maior valor de um relacionamento é a parceria no dia a dia, a garantia de ter alguém para cuidar de você no fim de um dia duro. A ausência aos poucos vai ficando cada vez mais sentida”, avalia o ator.
Letícia Colin discorda. “Acredito que seja mais que possível. Conheço casos de pessoas que viveram longe uma da outra e conseguiram levar a relação à frente. Hoje, há muitas maneiras de diminuir essa distância, nem que seja uma ponte aérea”, finaliza a atriz, lembrando que a felicidade pode estar escondida atrás de uma linha invisível traçada entre o Santos Dumont e Congonhas.