Por tiago.frederico

Rio - Disco novo, com músicas inéditas, Zeca Pagodinho não gravava desde 2010, quando lançou o ‘Vida da Minha Vida’. E naquele, assim como no recém-lançado ‘Ser Humano’, só há uma composição de sua autoria — ‘Vida...’ trazia ‘Orgulho do Vovô’, parceria com Arlindo Cruz, e para este novo ele fez ‘Foi Embora’, com Sombrinha e Arlindo. “Não tenho tido mais inspiração para compor, e eu já cheguei num lugar legal. Ao mesmo tempo, tem muita gente fazendo música boa e, vamos combinar, ser gravado por mim é como ganhar na loteria, né?”, gaba-se o sambista. “Daí eu tenho feito só umazinha por disco, para não me deixar esquecer que sou compositor”.

Zeca com a pequena Catarina no colo%3A 'Compro tudo o que meus netos pedem!'André Luiz Mello / Agência O Dia

Compor, fazer shows, gravar... Zeca Pagodinho só quer saber mesmo é da mais nova netinha, Catarina, 10 meses — ele também é avô de Noah. E tome de chamego, beijos das bochechas aos pés e mais todo o tipo de paparicação

“Compro tudo o que meus netos pedem. É que quando eu era criança, lembro que era muito ruim no Natal ver os vizinhos de sapato novo, bicicleta, não entendia bem por que Papai Noel só era bom com os outros. Na Páscoa, era um ovo só para dividir por uns três ou quatro. Acho que essa vivência é que me tornou o ser humano que sou hoje”, orgulha-se o ‘herói de Xerém’, título que ganhou as manchetes quando, em 2013, apareceu nos noticiários com seu quadriciclo socorrendo as vítimas das chuvas em Duque de Caxias. “Mas eu já faço isso há 20 anos. Uma pena é que essa solidariedade típica do brasileiro esteja se perdendo com a violência, a falta de escolas, de médicos, de trabalho. Tá todo mundo puto da vida. Mas, como diz na faixa-título do disco novo, eu ainda tenho fé no ser humano”.

Superação

O CD sai na sequência de acontecimentos tristes: as mortes do filho Elias e do pai Jessé este ano. “É a vida que segue... O samba me ajuda, e ainda tenho a minha mãe, tem a Catarina, o Noah, não posso parar, não”, resigna-se.

Só que, para piorar, Zeca também sofreu recentemente com graves problemas na coluna. “Mas não limei a cervejinha! Só diminuí, mas no último feriado de São Jorge bebi legal. Mas aí tenho que ficar de olho se a glicose está alta, e tenho tomado remédios para tudo”, relata, tirando do bolso um papelzinho com uns cinco ou seis comprimidos das mais variadas cores e tamanhos dentro. “Parece até um papelote (de cocaína), né? Outro dia tirei do bolso esses remédios embrulhados desta forma bem no meio de uma coletiva de imprensa, teve um camarada que quase deixou o olho cair aqui dentro. Falei: ‘Ô, rapaz, já estou com 56, não tenho mais idade pra isso...’ Quando comecei, me comparavam até ao Noel Rosa, porque achavam que eu ia morrer cedo. Hoje, só de carreira eu já tenho 30 anos aí”.

Embora pareça preferir ficar em casa descansando, bebendo sua cerveja e curtindo a netinha, Zeca Pagodinho tem que trabalhar, e os shows de lançamento de ‘Ser Humano’ já têm as datas marcadas: sexta e sábado, no Citibank Hall de São Paulo, e dias 29 e 30, no Citibank Hall carioca, na Barra da Tijuca, bairro onde mora desde 2002. E ainda para este ano ele vai ter toda sua discografia reunida em uma caixa comemorativa, trazendo como bônus gravações raras das três décadas de trajetória artística.

“Isso aí foi ideia da gravadora. Quando olho para trás e vejo quanto disco já lancei (são 23 no total, incluindo o novo), constato apenas uma coisa: estou é ficando velho!”.

Participações inusitadas

Entre figurinhas carimbadas de diversos de seus discos anteriores, como Rildo Hora (diretor e arranjador em cinco faixas), Paulão 7 Cordas (arranjador em ‘Perdão, Palavra Bendita’), Almir Guineto (coautor de ‘A Santa Garganta’) e Serginho Meriti (coautor da faixa ‘Samba Na Cozinha’), Zeca Pagodinho traz no time de ‘Ser Humano’ algumas curiosidades.

O comediante Pedro Bismarck faz uma divertida participação especial com a voz de seu personagem Nerson da Capitinga, em ‘Mané, Rala Peito’. Há também no repertório ‘Asas da Paixão’, uma rara parceria de Marcos Valle (que toca teclado na faixa) com o saudoso Luiz Carlos da Vila (1949-2008). E Pepeu Gomes, com sua guitarra distorcida, coloca um tempero roqueiro em ‘Monalisa’, do verso “Sua beleza é absurda meu amor, Da Vinci não te conheceu, por isso é que não te pintou...”; “Mas eu nunca fui ao Louvre, museu não é a minha!”, brinca Zeca.

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