Por tabata.uchoa

Rio - Cantora associada ao samba de São Paulo no início de sua carreira fonográfica, Fabiana Cozza pisou com suavidade no quintal carioca em seu último disco gravado em estúdio, produzido por Paulão Sete Cordas e lançado em 2011. Quatro anos e um tributo a Clara Nunes (1942 - 1983) depois, a intérprete paulistana faz outra viagem em ‘Partir’, quinto CD de Cozza, nas lojas neste mês de junho.

Após disco voltado para o samba carioca%2C Fabiana Cozza evoca ancestralidade africana no álbum ‘Partir’Divulgação Agô Produções / Stela Handa

‘Partir’ leva Cozza à África através da Bahia. Não é a toa que Maria Bethânia saúda o disco e a cantora em texto publicado no encarte do CD produzido pelo violonista e compositor Swami Jr. Sagaz, Bethânia ressalta a levada do Recôncavo Baiano no samba ‘Não pedi’ (Roberto Mendes e Nizaldo Costa) e — mais importante — nota que o canto de Cozza está mais suave em ‘Partir’ (na caracterização de Bethânia, a voz de sua colega está ‘lisa e clara’).

‘Partir’ é mais um ótimo disco de Fabiana Cozza. A evocação da ancestralidade africana é feita sem clichês através de repertório que passa longe da obviedade. A música que abre o disco, ‘Velhos de coroa’ (Sérgio Pererê), é exemplo da habilidade da intérprete para garimpar repertório entre terras e nomes pouco explorados.

O fato de estar adotando tons mais suaves em ‘Partir’ jamais im pede a cantora de mostrar seus dotes vocais no disco. Os floreios operísticos de ‘Entre o mangue e o mar’ (Alzira E e Arruda) atestam que a cantora é grande. Mas o que conta em ‘Partir’ é o conceito, é a rota de uma viagem que tem escala em Angola, representada por ‘Chicala’, tema em que o compositor carioca João Cavacanti cita na letra o semba, um dos embriões do samba.

Se ‘Roda de capoeira’ (Vicente Barreto e Paulo César Pinheiro) evoca os afro-sambas, a canção francesa ‘Le Mali chez la carte invisible’, do ótimo Tiganá Santana (autor também de ‘Mama Kalunga), propõe mergulho no útero africano. Como diz verso do disco, Cozza desenterra o ouro da alma afro-brasileira em ‘Partir’.

Você pode gostar