Por daniela.lima

Rio - Wagner Moura estará vestido com “as roupas e as armas” de Pablo Escobar, maior narcotraficante da América Latina, na série ‘Narcos’, de José Padilha, que estreia no próximo semestre, no Netflix. O ator se mudou para Medellín, na Colômbia, a fim de aprimorar o castelhano, engordou e caprichou no bigode para ficar mais parecido com ‘El Patrón del Mal’. Ele só não foi buscar referências com um dos que mais poderiam contribuir no processo de composição de seu personagem, reclama Juan Pablo Escobar, filho do traficante. 

'Não vi nenhuma cena%2C nem sei se está terminada. Eles preferiram uma versão gringa'%2C dispara Juan Pablo Escobar%2C filho do traficanteReprodução Internet


“Fiquei sabendo da série e me ofereci voluntariamente para colaborar com informações, tentei entrar em contato com produtores, com a Netflix, mas nunca me responderam. É muito claro que eles querem manipular a história do meu pai”, disse Juan ao DIA, durante o lançamento de seu livro ‘Pablo Escobar — Meu Pai’, que aconteceu terça-feira no Instituto Cervantes, em Botafogo. 

Ele criticou a série encomendada pelo Netflix e garantiu não ter participado de nada da produção. “Não vi nenhuma cena, nem sei se está terminada. Eles preferiram uma versão gringa. Certamente, vocês vão ver franco-atiradores, a quilômetros de distância, matando meu pai. Essa história não é real. Mas, sem minha participação, eles podem maquiar do jeito que quiserem. Ninguém nunca respondeu aos meus contatos. Essa série é mentirosa, não respeita a verdade. Isso não me agrada, porque fala sobre a minha família. Eu desconfiaria de qualquer coisa que fala sobre a vida de alguém sem que seus familiares tenham sido ouvidos”, alfinetou. 

Wagner Moura já caracterizado para viver Pablo Escobar na série 'Narcos'Reprodução Internet

A assessoria do Netflix informou não saber se a série foi finalizada, apenas confirmou que a estreia acontece no próximo semestre. Em entrevista à revista ‘Trip’, José Padilha afirma que sua versão tem uma visão americanizada: “Estamos contando a história do ponto de vista da DEA (agência anti-drogas dos Estados Unidos), que estava na Colômbia monitorando, forçando o país a se livrar do Escobar.”

O episódio sobre a morte do pai (que aconteceu em 1993, quando ele tinha 16 anos) é um dos que mais parecem lhe incomodar. “Temos certeza de que ele se suicidou, mas a Colômbia perde se contar a verdadeira versão. Meu pai falava de suicídio na mesa do jantar, ele pesquisou com médicos onde teria que dar o tiro para que fosse fatal. Repetia que a arma dele tinha 15 balas, que 14 delas seriam dos inimigos e a última seria dele. E foi. O tiro que o matou estava a três milímetros de onde ele sabia que era para atirar”, explicou o autor do livro que já lhe rendeu ameaças. “Após a publicação, recebi uma mensagem sutil em que pediam para eu não pisar mais na Colômbia”, divertiu-se. “Por sorte, acho que não vou precisar voltar.”

Acostumado a uma vida luxuosa quando criança, Juan Pablo hoje tem uma rotina modesta na Argentina, onde trabalha como arquiteto. “A pergunta sobre o que restou da nossa fortuna você tem que fazer aos inimigos do meu pai”, disse. “Uma vez, quis saber quanto dinheiro meu pai tinha. Ele me respondeu que chegou a ter tanto que perdeu as contas. Imagino algo maior que US$ 150 milhões, entre aviões, helicópteros, carros, motos, casas, terrenos, edifícios inteiros. Não há uma cifra exata, porque na máfia não há registros.”

Pablo, que tem 38 anos, se considera pobre e garante não ter nenhum valor que ultrapasse três dígitos em sua conta bancária. “Assim que meu pai morreu, houve uma série de reuniões com cartéis para definir o que seria feito com tudo que tínhamos. Eram pessoas nos cobrando tudo o que gastaram a vida inteira atrás do meu pai. Colocaram as armas na mesa e falaram: ou entregam ou morrem. Tive dez dias para entregar tudo”, lamentou, com um certo alívio. “Não havia aparato militar para me defender. Os bandidos nos tomaram tudo. Antes, via como um roubo. Hoje, como um favor que fizeram. Quando os inimigos escolheram não me matar, eles também me condenaram a ser pobre. E essa segunda parte eles cumpriram muito bem”, contou ele.

Você pode gostar