Por daniela.lima

Rio - É natural, e quase inevitável, associar a obra de Pablo Picasso ao Cubismo — movimento nascido na primeira década do século passado, cuja característica principal é retratar a realidade por meio de formas geométricas. Mas se há um ponto que a mostra ‘Picasso e a Modernidade Espanhola’ consegue desmontar com facilidade é a impressão de que o pintor andaluz, um dos principais nomes da história da arte, permaneceu preso a apenas uma corrente artística. 

‘O Pintor e a Modelo’Divulgação


A exposição, formada por 90 peças, começa amanhã e ocupa a maior parte do primeiro andar do Centro Cultural Banco do Brasil. Nela, é possível notar como o mestre, nascido em Málaga, transita com facilidade entre a arte clássica, o surrealismo e outras correntes, numa mistura de cores e referências visuais que, segundo o curador da exposição, Eugenio Carmona, encontrou um lugar ideal em território carioca.

“Essa mostra já passou por Florença, na Itália, e acabou de ser exibida em São Paulo. Foram experiências ótimas. No entanto, não tenho a menor dúvida em afirmar: o Rio de Janeiro é o local perfeito para ela. O sol, o calor, as cores da cidade têm muita relação com os trabalhos expostos aqui”, avalia ele, que também é professor de História da Arte da Universidade de Málaga.

As obras pertencem à coleção do Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, que fica em Madri, e estão divididas em oito módulos temáticos. Por meio deles, é possível conhecer a trajetória do artista: os desenhos, a obsessão pela figura feminina, a habilidade na criação de imagens por meio de figuras de geometria (como círculos, linhas retas e triângulos), a associação à figura do Minotauro, e os esboços e pinturas que serviram de preparação para ‘Guernica’ — a obra mais popular do artista, registro do bombardeio nazista que destruiu a pequena cidade espanhola em 1937, matando 100 civis, e que, por razões de segurança, não pode mais deixar o território espanhol.

“‘Guernica’ se transformou em algo bem maior que uma pintura — o quadro passou a ser um símbolo para muitas pessoas que viviam sob ditaduras e que acreditavam que a guerra não era o melhor caminho para se resolver conflitos. Trata-se de um dos pontos mais altos e importantes da arte ocidental”, avalia o curador.

Além das criações de Picasso, a mostra é formada por trabalhos de artistas que dialogaram com sua obra e, de uma forma ou de outra, ajudaram a construir aquilo que se convencionou chamar de Modernidade Espanhola. Quadros de Salvador Dalí, Joan Miró, Óscar Domínguez e Juan Gris são vistos em um dos principais salões da exposição, que ficará no CCBB até o dia 7 de setembro.

“O trabalho de Picasso é incrível, mas, a meu ver, quem visitar a mostra não deve se deter apenas no que ele fez. Há verdadeiras obras-primas de todos esses outros mestres. É um conjunto muito rico e variado, incluindo criações de artistas que não se tornaram tão conhecidos quanto ele, como Maruja Mallo, María Blanchard e Jorge Oteiza y de Tàpies. Essa mostra é, sobretudo, uma oportunidade única para refletir sobre a arte moderna e suas narrativas alternativas e pouco convencionais”, finaliza Carmona.

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