Por tabata.uchoa
A transformista Gazelle%2C do documentário ‘Gazelle — The Love Issue’Divulgação

Rio - Em questão de minutos, o arco-íris dominou o Facebook , após a legalização do casamento gay nos EUA. Uma semana depois, chegou a hora das cores da bandeira do movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) colorirem também o Odeon e mais seis endereços — Cine Cultural Justiça Federal, Cine Joia, Livraria Cultura, Cine Arte UFF, Instituto Cervantes, Arena Dicró (Penha Circular) e Arena Jovelina Pérola Negra (Pavuna). Através de 120 produções de mais de 30 países, de hoje ao dia 12, o Rio Festival Gay de Cinema exibe e debate o cotidiano e questões em torno de um universo ainda marginalizado.

“As pessoas não estão satisfeitas consigo e ainda querem impedir que o outro seja feliz”, reclama Alexander Mello, curador da mostra, referindo-se à intolerância em relação à sexualidade alheia. “Nossa sociedade prevê que a identidade está ligada ao órgão sexual, quando isso está na nossa cabeça”, defende Mello, que selecionou filmes para discutir essa questão, como ‘Game Face’, do belga Michiel Thomas. O longa-metragem fala sobre atletas LGBTs, como a primeira transgênero lutadora de MMA, Fallon Fox, e de Terrence Clemens, um jogador de basquete universitário.

“Ainda há um tabu muito grande sobre o tema no esporte. Fico me perguntando: por que isso ainda acontece? O que isso interfere no desempenho deles?”, questiona o curador. Ele enxerga o festival como ferramenta para apresentar diversas óticas sobre gênero e sexualidade. “O caminho é o respeito. Quando as pessoas começarem a não se achar superiores, enxergarem os outros como iguais, o preconceito tende a melhorar”, acredita ele, que ainda se choca com movimentos homofóbicos, principalmente por parte de religiosos. “Para mim, essas pessoas não estão falando de religião, estão falando de ódio. Isso é contra o que deveriam pregar”, diz Mello. “Jesus ficou ao lado de uma prostituta quando atiraram pedra nela. Ele sempre esteve com as minorias”, completa.

Por isso, ele fez questão de selecionar títulos que representassem a amplitude da realidade LGBT. Entre os assuntos abordados, há temas como a Aids, retratada no filme de abertura, no Odeon, ‘Gazelle — The Love Issue’. Dirigido por Cesar Terranova, fala sobre Paulo, um transformista brasileiro em Nova York HIV positivo. “É algo importante de ser abordado, pois o número de soropositivos no universo LGBT está crescendo muito. Principalmente entre os jovens. Meu namorado é médico e vê muita gente jovem contaminada”, alerta.

Mas, além de selecionar filmes sobre temas tabus, Mello reservou um espaço para produções experimentais, títulos voltados para adolescentes e animações, divididos entre as mostras ‘Transcinema’, ‘Panorama Jovem’ e ‘DIV.A — Diversidade em Animação’. Entre os longas da competitiva, também há espaço para a descontração. ‘Dyke Hard’ mistura gêneros como ficção científica, terror e comédia, e é classificado pelo curador como “um filme B completamente doido”.

“Esses temas devem ser apresentados de maneira natural, como são, e não como um highlight”, defende ele, referindo-se às polêmicas causadas por beijos gays nas últimas novelas. “A TV se baseia em audiência, e esses temas entram como uma pauta polêmica, que vão criar um debate. Acho isso positivo, pois uma novela atinge todos os públicos. Mas o beijo gay já acontece no cinema desde 1930. Nisso já estamos bem à frente.”

Nas arenas a programação é gratuita. Confira a agenda em www.riofgc.com.

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