Por tabata.uchoa

Juazeiro, Bahia - Um dos instrumentos mais populares da música brasileira, a sanfona tem uma origem controversa. Alguns relatos sugerem que um instrumento primitivo com o mesmo princípio sonoro das palhetas do acordeão embalava os chineses 12 anos antes de Cristo. Mas a história oficial é a de que ela chegou à Rússia no século XVIII e foi patenteada, já em 1827, em Viena. A chegada do instrumento ao Brasil não tem data definida, mas a sanfona se embrenhou pelo Nordeste e pelo Sul brasileiros, ganhando sotaques e nomes diferentes. Pensando nessa versatilidade, o mestre do fole Targino Gondim, autor de ‘Esperando na Janela’, o forró mais tocado da última década, criou, há dois anos, o Festival Internacional da Sanfona, cuja terceira edição começou na terça-feira, em Juazeiro da Bahia.

Targino (ao centro%2C de sanfona branca) e o Quinteto Sanfônico da BahiaRegina Lima / Divulgação

Além da semana de shows que vai até sábado, o Centro de Cultura João Gilberto abriga uma exposição de sanfonas e oficinas que se espalham também por espaços na cidade e na vizinha pernambucana Petrolina. Unidas por uma ponte que atravessa o Rio São Francisco, as duas cidades têm uma rivalidade sadia que acaba ao primeiro acorde de uma sanfona.

Que o diga o Quinteto Sanfônico da Bahia, formado pelo próprio Targino e pelos sanfoneiros Rennan, Gel, Marquinhos Café e Cicinho, que abriram o festival. Com o belo teatro, com capacidade para 350 pessoas, lotado, eles apresentaram um repertório que misturou clássicos da música nordestina, como ‘Lamento Sertanejo’, de Dominguinhos e Gilberto Gil, e ‘Feira de Mangaio’, de Sivuca e Glória Gadelha, com ‘Adiós Nonino’, de Astor Piazzolla, e ‘Isn’t She Lovely’, de Stevie Wonder.

O devaneio das sanfonas pelo tango, pelo pop e pela música do mundo foi interrompido de forma calorosa pelo público quando o quinteto interpretou ‘João e Maria’, de Sivuca e Chico Buarque. Antes mesmo de mostrarem o evidente virtuosismo, os instrumentistas trocaram seus improvisos pelo papel de coadjuvantes, de acompanhantes de um coro tão emocionado quanto afinado. Então, a partir daí, juazeirenses e petrolinenses perceberam que a ponte que enfeita o Velho Chico não os divide, mas sim os une com os acordes dolentes e nostálgicos das sanfonas.

“A gente ensaiou muito para esta noite, mas vocês nos quebraram com este coro tão bonito”, disse um emocionado Targino. A noite teve ainda show do acordeonista português Nathanael Sousa, que tocou seu repertório autoral. Ontem, o gaúcho Bebê Kramer e o paulistano Toninho Ferragutti mostraram o trabalho em duo que roda o país. Hoje, quem sobe ao palco é o acreano Chico Chagas, além do mato-grossense Dino Rocha e do português João Frade.

Reportagem: João Pimentel, especial para O DIA

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