Por daniela.lima
A cantora paraense Liah Soares mora no Rio e come um açaí com tapioca para matar a saudadeJoão Laet / Agência O Dia

Rio - Já imaginou viajar ao Pará sem sair do Rio? Pois o pessoal de lá está mais presente entre nós do que imaginamos. “O paraense é o único povo brasileiro que fala puxando o xis, que nem o carioca, talvez por isso não se perceba tanto”, comenta a cantora Liah Soares, nascida no Pará mas hoje uma moradora apaixonada pelo Rio, enquanto prova um açaí na lanchonete Amazônia Soul, em Ipanema.

Na música, na gastronomia, na moda, os ritmos, as cores e os sabores do Pará parecem mesmo ter caído no gosto dos cariocas. Aqui, é possível ouvir e aprender a dançar e tocar o carimbó — o gênero musical típico do Norte — ou experimentar um bom tacacá ou um suculento suco de cupuaçu. E tem até lançamento de coleção de roupas inspirada na cultura paraense (confira nosso roteiro na página ao lado). “Do Carnaval para cá, começou a explodir essa cena no Rio, com a criação do Cabloco Muderno, um bloco que toca música paraense com levada de samba”, contextualiza o badalado DJ Mam, um dos vários cariocas encantados pela cultura do Norte.

Ele chegou mesmo a fazer uma música unindo o samba e o carimbó, a ‘Sambarimbó’ (confira letra no destaque), e domingo promove a segunda edição do Baile de Carimbó, evento em sua própria casa, no Morro da Conceição, reunindo um time de artistas do Pará que vai apresentar música, dança, literatura, moda e culinária típica. Lá, será lançada a coleção Magia do Pará, da designer de moda Julia Vidal, com adornos de cabeças típicos das carimbozeiras, assessórios indígenas e abadás.

Artistas cariocas vêm fazendo trabalhos muito bacanas explorando ritmos da Amazônia, incluindo o carimbó, como os conjuntos Noites do Norte ou as cantoras Guidi Vieira e Cissa de Luna. “Eu chamo de ‘pariocas’”, brinca o percussionista paraense Silvan Galvão, que hoje mora no Rio e vem se tornando uma das principais referências de seu estado por aqui, ministrando aulas na oficina OPã — Orquestra de Percussão Amazônica, na escola Maracatu Brasil, em Laranjeiras. “Estou muito feliz de trazer um pouco da minha cultura para cá”, alegra-se. 

CONEXÃO RIO-PARÁ

Se, por um lado, os cariocas estão dançando cada vez mais o carimbó, lá em Belém o nosso samba também bate um bolão.

“O paraense é apaixonado por samba e também pela cultura amazônica. Eu peguei as duas coisas, juntei numa só e fiz um samba com um sotaque próprio”, define o paraense Arthur Espíndola, sobre seu CD ‘Tá Falado’.

“Amadrinhado” por Fafá de Belém, ele já morou por cinco anos no Rio. “Morava pertinho de uma casa de comidas paraenses, o Tacacá do Norte, no Flamengo. Adorava levar meus amigos cariocas para provarem a nossa culinária. Era um cantinho de Belém bem ali pertinho da minha casa”, rememora.

Liah Soares também aparece lá sempre que pode. Mas, se o assunto é açaí, só o da Amazônia Soul, em Ipanema, faz frente ao original do Pará.

“O açaí do Rio não é igual ao verdadeiro. Lá é mais concentrado, aqui é quase um frozen, e tem um gosto forte de guaraná”, explica Liah. “Aqui no Rio, o da Amazônia Soul é o que mais se aproxima do de lá”, elogia.
Para seu novo DVD, ela voltou à terra natal, e gravou no Theatro da Paz em Belém. “Mas não deixo o Rio. Acho que, pela natureza exuberante, os paraenses acabam se reconhecendo aqui.” 

‘SAMBARIMBÓ’

DJ MAM

Voei do Rio pro Pará
Só pra conhecer Trio Manari
Conexão com o terreirão
Raiz do meu povo na palma da mão

Carimbó tá no lundu
Caboclo tapuio, tacacá jambu
Lundu tá no carimbó
Tem nego sambando lá no Marajó

O Mam
Que beat é esse?
Meu brother
Conta pra mim
Se tem carimbó no Rio de Janeiro
Se tá tendo samba em Marapanim

ONDE O RIO É NORTISTA

AMAZÔNIA SOUL
Misto de lanchonete e loja de produtos típicos, gaba-se de ser referência do melhor açaí do Rio. Rua Teixeira de Melo 37, Ipanema (2247-1028). Diariamente, das 11h às 21h. Açaí (300ml) por R$ 17.

ARRAIÁ DO NOITES DO NORTE
Baile malemolente do grupo carioca (foto), que se dedica a tocar o carimbó. Rio Forest Hostel. Rua Joaquim Murtinho 517, Santa Teresa (3563-1020). Dom, a partir das 16h. R$ 20.

BAILE DE CARIMBÓ
Na Laje Ateliê DJ Mam e Julia Vidal, com moda e discotecagem. Rua Jogo da Bola 49, sobrado, Morro da Conceição (ao lado da Fortaleza Nossa Senhora da Conceição). Dom, a partir das 15h. Grátis.

BARRACA DO PARÁ
Uma embaixada paraense na Feira de São Cristóvão. Campo de São Cristóvão s/nº (3885-6698). Hoje, das 10h às 23h. Amanhã, das 10h à meia-noite. Dom, das 10h às 19h. Pato no tucupi: R$ 60 (serve duas pessoas).

FELIPE CORDEIRO
Guitarrista de destaque da atual cena paraense, ele abre o show da Nação Zumbi no Circo Voador com seu live PA (veja em Show).

NOITE DE CARIMBÓ
Show com Silvan Galvão e oficina da paraense Camila Cabeça, que vai ensinar o público a dançar o carimbó. La Carmelita. Rua do Resende 14, sobrado, Lapa (3286-9736). Dom, às 21h (oficina) e às 22h (show). Grátis.

OFICINAS OPÃ — ORQUESTRA DE PERCUSSÃO AMAZÔNICA
Para aprender a tocar com instrumentos típicos os ritmos tradicionais amazônicos, como carimbó, marabaixo, batuque e lundum, entre outros, com Silvan Galvão. Maracatu Brasil. Rua Ipiranga 49, Laranjeiras (2557-4754). Toda sexta-feira, às 19h30. R$ 165/mês.

PAIDEGUARÁ
Criado por artistas do Pará radicados no Rio, o grupo musical faz um trabalho de pesquisa e resgate da cultura do Norte. Teatro Sesi Jacarepaguá. Avenida Geremário Dantas 940, Freguesia (3312-3788). Dom, às 17h. R$ 10.

TACACÁ DO NORTE
O carro-chefe do bar, claro, é o tacacá (R$ 17), um caldo feito da mandioca, com camarões, tucupi e jambu, erva da região Norte. Rua Barão do Flamengo 35, loja R, Flamengo (2225-7329). De seg a sáb, das 8h30 às 23h. Dom, das 9h às 19h. Não aceita cartão de débito ou crédito.

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