Rio - ‘Toda nudez será castigada”, já dizia Nelson Rodrigues. No caso de Anita, personagem de Adriana Esteves no longa ‘Real Beleza’, não. Na história de Jorge Furtado, que chega aos cinemas amanhã, ela não só se despe de vaidade e aparece de cara lavada como protagoniza seu primeiro nu frontal nas telonas.
No papel de uma dona de casa humilde e culta, mãe da aspirante à modelo Maria (Vitória Strada) e casada com Pedro (Francisco Cuoco), 40 anos mais velho do que ela, desperta paixão no fotógrafo João, vivido por Vladimir Brichta, seu marido na vida real. Foi Adriana quem sugeriu ficar sem roupa na frente das câmeras, na cena em que os personagens se amam num lago. “Ela está ali na idade dela, do jeito dela. Fiquei muito feliz com esse filme porque as pessoas ficam nuas, verdadeiras. É a beleza da sinceridade. É lindo ver a pessoa como ela é. Eu sou isso aqui, sou só isso ou tudo isso”, frisa Adriana.
Vladimir deu o aval e também apostou na delicadeza do take. “A Adriana falou que estava disponível e eu disse o mesmo, que o Jorge podia contar comigo. Anita é essa pessoa livre, que mexe na horta e toma banho nua. Tem algo de muito libertador na condução dela”, analisa Brichta. Contracenar com o marido é algo que a atriz “perseguiria” até se não fossem casados: “Nossa relação é dentro de casa. Vlad é um ator que eu adoro, incrível. Um convite para trabalhar com ele é inegável.”
Para o cineasta, um dos desafios foi vencer a própria timidez para lidar com a intimidade dos dois em cena. “Eles estavam mais à vontade do que eu, queriam mais, e eu dizia: ‘Chega’. Já tinha o suficiente. Eles estavam empolgados (risos). É um momento muito bonito em que a Anita seduz o João e se revela. Ela tem maturidade, sabedoria, é uma outra forma de beleza. O cinema se tornou tão moralista, fala-se tanto em traição, em corno, mas existem outros tipos de relações que não são baseadas em mentiras”, avalia Furtado.
Se hoje esse tipo de cena não é um problema para a atriz, nem sempre foi assim: “Fiz um espetáculo chamado ‘Only You’ (2002), com o Gracindo Jr., em que eu tinha que ficar nua pela primeira vez no teatro, ao vivo, todas as noites. Foi muito difícil. Minha maior preocupação era com meu pai e minha mãe, nem tanto com o marido, na época eu era casada com o Marco Ricca, ator também. Depois que passei por aquilo, fui entendendo cada dia mais a minha profissão.”
Aos 45 anos, a artista está inteira a serviço de sua arte e satisfeita com o que vê no espelho. “Gosto de mim, do meu jeito, vou vivendo. Fico feliz de pensar que não foquei minha vida numa visão estética, nem fui criada com pessoas que valorizassem isso ao extremo. Meu marido também não, nem é assim que eu crio meus filhos. Não existe esse culto à estética, mas, para quem gosta, OK. Sou tolerante a entender o próximo, da mesma forma que eu adoro que me entendam.”
Anita é o oposto da ardilosa e vingativa Inês de ‘Babilônia’. Mas sobre a trama, Adriana prefere abster-se das polêmicas e críticas. “Novela é interativa há muitos anos. Isso faz parte da cultura brasileira. Quando não tinha internet, o público mandava cartas para a Globo para pedir que o mocinho ficasse com a mocinha.
São tantas novelas no ar e todas são criticadas de alguma forma”, pondera a atriz, que acrescenta: “‘Babilônia’ é uma das novelas que mais gostei de fazer, com pessoas incríveis, lindamente dirigida por um cara que transforma o set numa festa, que é o Dennis Carvalho. Foi uma honra fazer minha primeira trama de Gilberto Braga, e com a Gloria Pires, que é uma excelente atriz. Foi um barato a gente formar uma dupla, foi riquíssimo. Como novela é uma obra muito grande, eu não costumo fazer análises no início nem no meio, mas agora, que está no final, eu posso dizer que foi incrível e vai ser até o último dia em que eu estiver ali, trabalhando.”