Por clarissa.sardenberg

Rio - Ivete Sangalo e Criolo cumpriram bem a misão ingrata de cantar hits do repertório de Tim Maia (1942-1998) no show feito para plateia de convidados em 31 de março, na casa Vivo Rio. Já o disco ‘Viva Tim Maia’, que traz o registro do show da série ‘Nivea Viva’, decepciona. Além de reproduzir de forma apenas parcial o show (com 12 dos 28 números do roteiro original), a gravação de estúdio dilui o calor visto na estreia do espetáculo, já apresentado em turnê.

A capa simplória do disco produzido por Daniel Ganjaman deixa a impressão de que o disco foi feito sem o devido capricho. A única vantagem do CD sobre o show é equilibrar as presenças de Criolo e Ivete. No show, a artista baiana cantava (muito) mais do que o ‘rapper’ paulistano. Ele era quase um convidado dela.

Rapper paulistano Criolo e a cantora Ivete Sangalo lançam o CD ‘Viva Tim Maia’Divulgação

'Telefone' toca em soul

Se ouvisse o dueto de Ivete e Criolo em ‘Não quero dinheiro (Só quero amar)’ (1971), era bem capaz de o ‘Síndico’ pedir ‘Mais grave! Mais ‘groove’! Mais tudo’. Falta grave em faixas como ‘Réu confesso’, samba-soul de 1973 solado por Ivete. Mas há (alguns) bons momentos no disco. ‘Telefone’, balada gravada por Tim em LP de 1986, toca bonito no arranjo ‘neosoul’ de Ganjaman. ‘Lábios de mel’ (1979), bela surpresa de repertório calcado em sucessos radiofônicos, também resulta interessante no dueto de Ivete e Criolo.

Os arranjos são reverentes às majestosas orquestrações das gravações originais feitas por Tim nas décadas de 1970 e 1980. O arranjo de ‘Primavera’ (1970) praticamente reproduz o arranjo da gravação original dessa balada de alma soul composta por Cassiano e Silvio Roachel. Já o arranjo da dançante ‘Eu e você, você e eu (Juntinhos)’ (1980) explicita a devoção do tributo ao suingue da Vitória Régia, a banda que acompanhava Tim Maia nos shows, com metais em brasa.

'Chocolate' com samba

Há arranjos mais descolados das (imbatíveis) gravações originais de Tim Maia, cantor carioca que traduziu a ‘soul music’ norte-americana para o idioma musical do Brasil. ‘Jingle’ criado em 1970 pelo ‘Síndico’ que se tornou hit, ‘Chocolate’ ganha molho de samba no registro solado por Criolo. Por conta de sua ascendência nordestina, o ‘rapper’ encara ‘Coroné Antonio Bento’ — outro sucesso de Tim Maia em 1970 — com propriedade. Em contrapartida, o cantor se revela imaturo, no disco, para interpretar canção de dor-de-corno como ‘Me dê motivo’ (1983), primeiro sucesso da dupla Michael Sullivan & Paulo Massadas, autores de ‘Um dia de domingo’ (1985). O dueto de Ivete e Criolo nesta balada soa como xerox apagada do registro de Gal Costa e Tim. Chama o ‘Síndico’!!!

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