Por karilayn.areias

Rio - Músico e pai de família, o roqueiro Roberto Frejat não curte ficar mostrando as crias só por mostrar. “Uma vez fiz um programa para a MTV em que minha filha (Julia, 16 anos) acabou aparecendo num táxi comigo. Mas ela estava lá nessa hora e foi por acaso. Não gosto dessas coisas”, diz o roqueiro. Agora a ocasião é especial, já que a Velcro, banda do filhão de 19 anos, Rafael Frejat, abre a chegada ao Rio de sua turnê ‘O Amor É Quente’, amanhã no Vivo Rio.

Frejat posa com os integrantes da banda VelcroErnesto Carriço / Agência O Dia

O paizão, o filho e os amigos Pedro Masset (voz), Ricardo Kaplan (baixo) e Leo Israel (bateria, filho do saxofonista George Israel, ex-Kid Abelha) passam as tardes ensaiando no estúdio Du Brou, mantido pelo ex-Barão Vermelho na Fonte da Saudade. “Adoro isso de ter banda de abertura. E o Velcro é uma banda de rock de verdade, que bota pra f... no palco. Esse moleque (o vocalista Pedro) é maluco, fala uma porrada de barbaridades no palco!”, alegra-se Frejat, amigo de infância de George Israel, pai do batera Leo. “Ver meu filho e o dele juntos é o maior flashback”.

Frejat percebeu que o filho viraria músico quando ele ainda era pequeno. No show de lançamento de seu primeiro disco solo, ‘Amor Pra Recomeçar’ (2001), ele até subiu no palco com uma guitarrinha. “Pedi ao Tagima (fabricante paulistano) para fazer uma guitarra pequena, e o Rafa ficava nos meus ensaios brincando com ela. Amigos como o (guitarrista) Cecelo Frony e o (produtor) Liminha é que repararam: ‘Já viu que seu filho toca no ritmo?’. E eu vejo pelos hábitos dele que o mosquitinho pegou”, conta Frejat, lembrando que nunca viu o filho jogar a escola para o alto para se dedicar à guitarra. “Nada disso, ele sempre foi bom aluno. Quando estava relaxado com as provas, vinha aqui ensaiar. Ele tem o privilégio de ter esse espaço (o Du Brou) e sempre aproveitou bem. Agora ele está cursando Sociologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Bom, na verdade, ele está na faculdade, mas a faculdade não está nem aí para ele, né? Estão de greve há meses!”, reclama o músico.

Velcro%3A Rafael%2C Leo%2C Pedro (sentado) e RicardoErnesto Carriço / Agência O Dia

E como é a convivência do Rafa músico com o pai roqueiro famoso? O filho fala bonito na hora de se referir ao assunto. “Tem um diálogo, mas ele é subjetivo. São duas correrias simultâneas, cada um de um lado fazendo suas coisas, um vendo o outro. E numa hora a gente se conecta”, brinca ele, que abre a apresentação e ainda toca com o pai em algumas músicas no show. E ainda precisou guardar segredo para os amigos de que a Velcro abriria o show de Frejat. “Mas meu pai acabou contando!”

VELCRO NO OUVIDO

O nome da banda de Rafael, Pedro, Leo e Ricardo (o primeiro com 19, os três últimos com 20 anos) é Velcro, mas o quarteto já avisa que não é para nenhum engraçadinho pensar besteira. O grupo diz ter sido chamado à atenção para o significado de ‘colar velcro’ (expressão que designa relação sexual entre mulheres) pela produtora Paula Lavigne. “Mas achamos o nome bastante sonoro, é um ataque de consoantes”, diz Ricardo. “As pessoas pensam mais nesse lance da brincadeira sexual, mas velcro tem aquela ideia de coisas que são opostas, e se unem e grudam”, conta o vocalista Pedro. O grupo está junto desde 2012, começou tocando em saraus de escola e já se chamou Neorônios. Mesmo com dois filhos de ilustres roqueiros na formação, o objetivo da turma sempre foi ralar. “Passamos perrengue, carregamos equipamento, tocamos em festinhas, fizemos como todo mundo”, diz Pedro. “O principal é que vamos tocar para mais gente e vai ser nossa primeira vez num lugar com o som bom”, completa Leo Israel. Pedro, definido como “um maluco” por Frejat, diz que na hora em que ouviu o convite do ex-Barão, até fez piada. “Falei: ‘Pô, não posso ir, tenho prova...’”, brinca.

No show, mostram o primeiro single, ‘Ache O Que Quiser’, que lançam em breve. E, ah, apesar da amizade com Paula Lavigne (que anda produzindo o Dônica, banda co-irmã do Sinara, onde Leo Israel também toca), ela não trabalha com o Velcro, não. “Nós só falamos o nome dela para provocar polêmica na entrevista”, brinca Pedro.

BAILÃO DE AUTORAIS

Desde 2012, quando iniciou a turnê ‘A Tal Felicidade’, Frejat vem alternando músicas autorais e sucessos, seus e de outros, nos shows. A nova turnê, ‘O Amor É Quente’, faz o mesmo. “De dois meses para cá, pus mais músicas, e entrou um medley de Rita Lee, Roberto Carlos e Raul Seixas. A ideia é cantar coisas que eu gosto, mas ter a minha cara nelas”, diz. A novidade é o lançamento ao vivo da faixa-título, que já toca em rádio. Mas o músico reclama que sente menos participação do público quando aparece com canções novas.

“O público é muito preguiçoso. Quando você começa a tocar muita música nova, o pessoal vai ao banheiro, vai pegar uma cerveja, é quase desrespeitoso. E isso tem acontecido em outras áreas artísticas. Tanto o pessoal de teatro quanto de cinema reclama que está tudo em cima do humor. Tem a ver com essa coisa de as pessoas não terem paciência para ouvir músicas novas: se você toca coisas conhecidas, o humor da plateia levanta. Percebia esse tipo de falta de concentração no público e a maneira artística de lidar com isso é um repertório que misture o lado autoral com o de intérprete”, soluciona.

Justamente por isso, Frejat (que abre o Rock In Rio no dia 18, num show comemorativo de 30 anos do festival, com Skank, Erasmo Carlos, Titãs, Ivan Lins e George Israel) diz preferir lançar músicas individualmente em vez de álbuns inteiros — o último de inéditas, ‘Intimidade Entre Estranhos’, saiu em 2008. “Se fizer um disco, vou lançar como? Eu vou pegar dez músicas e enfiar na internet de uma vez só? Ao mesmo tempo tem gente que fala: ‘Pô, mas você não lança disco há um tempão’. Tá, mas você compra disco onde?”

Os fãs do Barão Vermelho pedem disco novo, mas Frejat descarta a possibilidade. “Uma turnê, se existir um motivo bem estruturado e encadeado, com a categoria que o Barão merece, pode rolar. Ou podemos gravar uma música nova. Mas não ficaria dois meses num estúdio, todo mundo junto, porque não tenho mais idade para isso. Acho que a banda já disse o que tinha a dizer”.

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