Por tabata.uchoa
'Tem uma hora que você precisa apertar o botão que começa com um F bem grande%2C sabe%3F Porque não adianta%3A você vai envelhecer’%2C diz Claudia OhanaNana Moraes / Shape

Rio - ‘No atual momento, o padrão de beleza é a mulher ser peituda e magra e o homem ter o pau grande e ser musculoso”, descreve o cineasta Pedro Morelli, que satiriza o assunto em seu primeiro longa-metragem. Em cartaz no Festival do Rio, ‘Zoom’ faz piada a partir de três histórias paralelas, envolvendo um pênis minúsculo, um silicone gigante e uma modelo tentando provar que não é só um pedaço de carne.

“O grande tema do filme é a nossa sociedade superficial, onde todos estão buscando um ideal de beleza e tentando ser o que não são”, diz Morelli sobre a história que criou a partir da recomendação do produtor canadense Niv Fichman, que o instruiu com a frase: “É para pirar”. Como a única ordem era não fazer nada careta, ‘Zoom’ nasceu com tramas simultâneas, em que seus respectivos personagens contam a história um do outro.

Na primeira, Michele, uma modelo (Mariana Ximenes), tenta provar ao namorado, Dale (Jason Priestley), que é mais que um rosto bonito ao escrever um livro. No texto dela surge a saga de Emma, uma jovem (Alison Pill) que precisa lidar com suas próteses enormes de silicone, enquanto cria uma história em quadrinhos. Ao mesmo tempo, Edward (Gael Garcia Bernal), o protagonista dos desenhos de Emma, tenta rodar um filme sobre a modelo, mas problemas com o tamanho de seu pênis interferem nos seus planos.

Quem também faz parte do time de ‘Zoom’ é Claudia Ohana. Considerada uma das musas dos anos 80 e 90, quando chamou a atenção também na capa da revista ‘PlayBoy’, a atriz assume que não é fácil estar na posição ideal de beleza. “As mulheres estão cada vez mais perfeitas nas fotos, por causa do Photoshop. O que faz as pessoas acreditarem que há um ideal de beleza inatingível. Tenho muito medo disso. Às vezes, fica uma fantasia de como se fôssemos perfeitos como na revista, mas ninguém é”, desabafa ela, que vive a dona de uma pousada no filme.

Hoje, aos 52 anos, Claudia continua em forma, mas revela que não há como não se preocupar com a própria aparência. “Não me mantenho zen. Também tenho a cobrança de estar bonita e curto a coisa da estética e da moda. Mas tem uma hora que você precisa apertar o botão que começa com um F bem grande, sabe? Porque não adianta: você vai envelhecer e nunca vai estar 100% como gostaria”, conclui a atriz.

“Um dos temas que o filme retrata é a mulher-objeto. Mas também fala sobre o homem-objeto, com o personagem do Gael Garcia Bernal, que interpreta o macho alfa que tem a sua masculinidade rompida”, acrescenta Morelli. “A Emma trabalha em uma fábrica de sex dolls, que os caras compram para transar. Então, ela fica sempre buscando uma perfeição em uma mulher que é literalmente um objeto”, analisa.

Mas quando você já é o padrão de beleza imposto pela sociedade, o problema é fazer os outros acreditarem que pode ser algo mais que um rosto e corpo bonitos. É o caso da modelo vivida por Mariana Ximenes. “Pode acontecer um preconceito às avessas”, diz Mariana, que admite já ter passado por situações parecidas com a de Michele. “Às vezes, passamos por julgamentos, sim. Agora, tem uma coisa infalível para isso: o tempo. Nada como ele para você se colocar de uma maneira bacana e respeitosa diante dos outros”, ensina a atriz, que completa: “Ser bonito é ter atitude e ser você mesmo”.

Se ser autêntico é mais importante do que se enquadrar ao senso comum, por que será que os protagonistas de ‘Zoom’ e tantas pessoas reais se submetem a verdadeiras sagas para se enquadrarem a regras estéticas e morais pré-estabelecidas pelo homem? “Eu, como qualquer pessoa, vivo em um mundo em que somos vítimas ou suscetível de querer estar inserido nele”, assume o cineasta.Além disso, tornou-se fácil desafiar as leis da natureza também. “Agora, as pessoas realmente têm a possibilidade de se transformar e mudar tudo: nariz, peito, boca e tentar se tornar no ser que idealiza”, completa Claudia.

O ator canadense Jason Priestley em cena com Mariana XimenesDivulgação

UM GALÃ QUE VIROU DESENHO

A chance de estrear seu primeiro longa entrava na vida de Pedro com o pé direito, quando ele tinha apenas 23 anos. Em 2007, aos 21, ele conheceu o produtor canadense Niv Fichman no set de ‘Ensaio Sobre a Cegueira’ (em que Morelli foi assistente de direção de Fernando Meirelles). Dois anos depois, veio o convite para dirigir uma coprodução Brasil-Canadá. A única exigência era fazer algo original e falado em inglês.

Hoje, aos 29, Pedro já inicia seu currículo como diretor com um time de atores famosos internacionalmente, como Gael Garcia Bernal. Mas se era para ser original, por que não transformar o galã mexicano em animação? Toda a parte da história vivida pelo personagem de Gael no filme é animada através de rotoscopia. A técnica é simples de explicar, mas trabalhosa de fazer. O diretor, Pedro Morelli, a classifica como uma das mais trabalhosas, pois é preciso filmar com atores, depois editar o material e só então desenhar em cima das imagens captadas — tudo isso frame a frame.

“Temos 30 minutos de animação no filme, o que deu 20 mil frames desenhados. Tivemos uma equipe enorme de 25 desenhistas que trabalharam por cinco meses — todos brasileiros. Aliás, toda a imagem do filme foi trabalhada no Brasil. Já som e música foram feitos no Canadá”, conta o cineasta.

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