Por tabata.uchoa

Rio - Léa Araújo, ou Lexa, 20 anos, está solteiríssima. Como diz o título de seu primeiro CD, ‘Disponível’, recém-lançado pela Som Livre. A funkeira de Jacarepaguá, novidade no cenário pop brasileiro, tem agenda cheia: 12 shows por mês, psicólogo, aula de inglês, piano, fonoaudióloga e idas aos Estados Unidos (foi lá fazer três faixas com o produtor americano Clinton Sparks, o mesmo da Lady Gaga — uma delas é uma releitura da faixa-bônus do CD, ‘Não É Pra Você’ —, e aproveitou para gravar vídeos, pensando num futuro clipe). E explica que a fama tem afugentado homens da sua idade.

“Acho que me veem sempre cercada de gente e se inibem. Fora que não são muitos caras de 20 anos que têm a vida corrida que eu tenho, ou a estabilidade financeira, e isso assusta. Mas os homens mais velhos dão em cima, e as mulheres também. Elas são bem diretas!”, brinca. Namoraria uma mulher, Lexa? “Não, eu gosto é de homem, aliás gosto muito de homem!”, exclama. E um fã? “Não, mas nunca diga nunca, né?”.

As meninas de Lexa%2C Jeanne (E) e Taylane%2C com a funkeiraMárcio Mercante / Agência O Dia

Algumas músicas de ‘Disponível’, CD que une batidões funk a novidades da música eletrônica e a sons mais calmos (reggaes e baladas, como ‘Pior Que Eu Sinto Falta’), são dedicadas a uma antiga paixão, que ela teve aos 15 anos. “‘Posso Ser’, que não é minha (é do produtor DJ Batutinha), eu canto pensando nessa pessoa de quem levei um pezinho na bunda. Ele saía comigo e não apareceu mais. Na época, fiquei sentida, mas hoje até espero isso, sabia?”, brinca. Ela diz ainda estar se acostumando com tantas mudanças. “Outro dia, fui ao cinema com as amigas. Me confundi e falei: ‘Meninas, vamos perder a hora do voo!’. Uma delas falou: ‘Que voo? Vamos é perder a hora do filme!’. Quando vou viver a vida normal de uma menina de 20 anos, acontece isso! O que era normal, hoje é diferente”, conta.

Ela tem se surpreendido em ver as mães de algumas fãs se identificando com suas músicas. “Algumas dizem: ‘Minha filha gosta das mais agitadas e eu prefiro as mais calmas’. Mas qual mulher nunca se decepcionou e falou: ‘Hoje eu vou viver, vou cair na pista’? Algumas mulheres terminam o casamento e vão ouvir música triste. Elas sabem que não podem ouvir, mas vão escutar”, diz, rindo.

Lexa lança novo CD e diz que não liga para comparações com AnittaMárcio Mercante / Agência O Dia

Filha de uma produtora musical e enteada de um músico de pagode, ela ouviu muitos sons diferentes em casa. “Marisa Monte, Sandy & Junior, Guns N’ Roses, tenho tudo do Michael Jackson... Mas o funk me escolheu. Sempre me vi cantando funk”, conta, ciente de que o estilo está cada vez mais pop.

“Antes funk era só um batidão, não existia nem melodia nem tom. Mas o estilo está exigindo mais de todo mundo, por isso até que muitos tiraram o ‘MC’ do nome”, conta, nem esquentando a cabeça com as comparações que fazem entre ela e Anitta (lançada pela mesma empresária de Lexa, Kamilla Fialho, com quem a cantora de ‘Show das Poderosas’ está brigada hoje). “Ela tem 22 anos e eu, 20. Temos idades parecidas e claro que vai haver muita coisa semelhante. Mas quem acha que é cópia tem que ouvir meu trabalho, sentar para conversar comigo”.

Bailarinos e músicos: família na estrada

“Eles são lindos! Na estrada é todo mundo igual, não tenho nem camarim exclusivo”, exclama Lexa, ao falar dos seus bailarinos. Igor Andrade, 18 anos, de Benfica; Rogger Castro, 23, da Central; Taylane Vieira, 21, de Duque de Caxias; Anyel Aran, 27, da Ilha do Governador, e Jeanne Nunes, 20, de Jacarepaguá, entraram para o time na audição para o primeiro clipe, ‘Posso Ser’, e fazem sucesso entre os fãs. A coreografia mais pedida é a da agitada ‘Fogo na Saia’. “É sensual sem ser vulgar. Fizemos num ensaio aberto e pediram tanto para a gente repetir que falamos: ‘Tem certeza?’”, brinca a falante Taylane. Já a banda de Lexa tem Paulo Henrique Rodrigues, o PH, na guitarra; Gabriel Ferrari, na bateria; Rael Lucio, no baixo; e o diretor musical Wagner Derek, no teclado. “Cada um veio de um canto: pop, gospel, pagode. Meu som é diversificado”, diz.

Funk, sim! Greves, não!

Se Lexa não fosse funkeira, seria engenheira civil ou professora de Matemática. Sim, verdade: a cantora iniciou os dois cursos na Universidade Federal do Rio de Janeiro, mas não deu continuidade. Em Matemática, passou em quinto lugar no vestibular. Boa com números, chegou a fazer Contabilidade numa faculdade particular também, mas largou tudo pela música. Os três meses em que fez Engenharia no Fundão foram marcados por dúvidas e medo. “Na época em que entrei no Fundão, havia notícias de trotes violentos lá (em 2013, um trote na faculdade de Medicina chegou a ser investigado pela diretoria da federal). Eu estudava o dia inteiro, ia embora de noite, só tinha um amigo na faculdade e saía todos os dias com medo de lá. Era muito longe da minha casa. E era curso integral, não daria tempo de me dedicar à música e à faculdade.”

Entre shows e ensaios, Lexa acompanhou os três meses de greve da universidade federal na qual estudou. “Sou totalmente a favor da greve. Entendo o lado dos professores. O professor é a estrutura do país e o Brasil não dá uma estrutura para eles. É uma desigualdade absurda. Mas os alunos acabam sendo prejudicados com a greve. Em federal é ‘estudem os capítulos tal, tal e tal. Cai na prova. Se virem!’. Quem viveu isso, sabe.”

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