Rio - Carioca adotado e honorário que veio da Bahia — vivo há 40 anos nesta cidade que me deu régua, compasso, uma profissão, um filho e algumas paixões —, passei o fim de semana viajando (sem sair do sofá) por bairros, becos, botecos e breubas desse Rio que curto tanto. O passeio foi pelas páginas de um livro espetacular para quem está envolvido no dia a dia com as mazelas desse corredor forrado de praias, montanhas, cimento, cascas de balas perdidas e muito furdunço, para o bem ou para o mal.
O livro chama-se ‘O Meu Lugar’ (Mórula Editorial) e tem como um dos organizadores o meu colega neste jornal, que bate ponto no dia de hoje ali na página 2 do primeiro caderno, o escritor, historiador e contador de boas histórias Luiz Antonio Simas. O DIA está bem representado no time de cronistas da obra (34 ao todo), também, por Fernando Molica, Moacyr Luz, João Pimentel e o locutor que vos fala.
Na apresentação, o poeta e compositor Paulo César Pinheiro, que de São Cristóvão ao Recreio dos Bandeirantes morou em diversos bairros, diz que a obra é “uma síntese, um resumo” do seu coração de carioca apaixonado. Eu, que do Estácio a Ipanema dei com os costados em inúmeras paragens do itinerário, tive a mesma sensação e vivi emoção parecida.
Não morei na Vila Isabel do texto de Aldir Blanc nem no Méier de Moacyr, mas fui passageiro constante da linha 435 e trabalhei no Catumbi (Rua Itapiru), o que me fez embarcar com Mariana Filgueiras em sua crônica deliciosa. A Madureira de Marcelo Moutinho (o outro organizador do volume), a Pavuna de Felipe Bezerra e a Ipanema de Manuela Trindade falam a mesma língua: de bossa, saudade e sedução. Fui ao Irajá, com Nei Lopes, voltei pelo Grajaú de Alberto Mussa, antes de bater pernas no Leblon na companhia sempre doce e profunda de Lúcia Bettencourt. No meio do caminho, parei na Glória para molhar a garganta com Álvaro Costa e Silva, o Marechal, num pé-limpo da Cândido Mendes.
Num flanar sem métodos, direção ou cansaço, fui rever a turma da escola de samba Deixa Falar, em companhia do Maurício Barros de Castro, descobri curiosidades desconhecidas em Bangu, via prosa de João Felipe Brito, e ainda consegui tomar a saideira em Botafogo, no Bar da Adelina, ao lado do velho amigo Paulo Thiago de Mello.
‘O Meu Lugar’ será lançado no Rio, no próximo dia 17, no sebo e restaurante Al-Farabi, que ocupa um lindo casarão centenário ali na Rua do Rosário. Bom motivo para ver ou rever a turma criativa que transformou o cartão-postal em fonte de inspiração e o colocou no papel, com tintas tão bonitas.
