O método funcionou, já que a primeira cena mostra o retorno de Arminto a Belém. Após anos afastado da cidade, ele retorna à casa da família e se depara justamente com a amante (Dira Paes) que compartilhava com o próprio pai — motivo de sua partida. “Toda aquela natureza ia me ajudando muito a entrar no personagem”, conta o ator, que diz ter presenciado queimadas em terrenos enormes no Pará, ao lado dos amigos Roger Gobeth e Daniel Chiacos, ambos fotógrafos que fizeram companhia e registraram a aventura.
Aliás, é através dessas lendas que um assunto considerado tabu é abordado no longa: o incesto. “Isso é uma loucura, mas existe em qualquer país — avançado ou de terceiro mundo”, lamenta Daniel. Mas o assunto é recorrente na carreira do ator, que encarnou personagens incestuosos em ‘Sangue Azul’ e em ‘A Festa da Menina Morta’. “Gera polêmica. No caso de ‘Órfãos..’, você não sabe se é imaginação ou não. É quase um devaneio. Gosto desse tipo de filme, fica mais rico para o ator”, reconhece ele, que completa: “Não posso criticar o personagem, preciso entrar na viagem dele. Por isso, acho que ser ator é fascinante”.
Se as questões humanas são as que mais atraem Daniel, sua estadia na Amazônia ampliou seus horizontes além da geografia. “O mundo está tão intolerante e cruel porque não compreendemos as diferenças. Eu cruzei esse Brasil e conversei com tantas pessoas. E cada uma delas me modificou”, pondera o mineiro, que, depois das filmagens, fez questão de voltar ao estado para presenciar a celebração do Círio de Nazaré (uma das maiores manifestações religiosas católicas do Brasil e do mundo).
“Fiz o filme duas semanas antes do Círio e quis muito participar. Foi maravilhoso. Peguei um pedaço da corda (espécie de espaço de pagamento de promessas dos romeiros). Foi bom ver tantos objetivos diferentes permeados pela fé de quem estava ali”, lembra-se ele, que conclui: “Tudo isso vai ajudando a me tornar uma pessoa melhor”.
FILME À VISTA, PÉ NA ESTRADA
'Órfãos do Eldorado’não é o primeiro filme que faz Daniel de Oliveira encarar uma aventura. Durante as filmagens de ‘Sangue Azul’ (2012), ele cismou que tinha que ir de barco até o set, em Fernando de Noronha. “Tentei até embarcar no barco que levava o lixo de lá, mas não consegui”, diverte-se ele ao lembrar da história. “Nessa saga, acabei fazendo amizade com o cara que ficou me ajudando a conseguir um barco em Recife. Até hoje, quando ele vem ao Rio, me liga e tomamos uma cerveja”, diz o ator, que no fim das contas, precisou se render e ir para o arquipélago de avião.