Por karilayn.areias
Ator acredita que a corrupção se combate nos pequenos atos do dia a dia e que o primeiro passo para melhorar é investir na educaçãoAndré Luiz Mello

Rio - Marco Ricca não precisou ir atrás de inspiração para encarnar o assessor de um senador envolvido em um esquema ilícito em ‘O Fim e os Meios’. “Convivemos diariamente com isso nos jornais. E filmamos no congresso, onde via muitas pessoas que são alvo de processos”, diz o ator sobre o filme, que estreia amanhã e retrata um tema bem recorrente no país: a corrupção.

Em cartaz também como Assis Chateaubriand, em ‘Chatô, o Rei do Brasil’, Ricca se espanta como a lógica das relações políticas continua parecida com a da década de 40. “É triste, mas os princípios da corrupção estão nos dois filmes. Um fala do magnata da imprensa, de suas relações com a política, e o outro mostra como o marketing é capaz de reinventar a imagem de um senador”, compara ele.

Embora esse seja um tema presente até hoje por aqui, o ator se mantém otimista em relação ao futuro. “Não concordo com quem diz que a corrupção está no sangue do brasileiro. Mas, é óbvio, que o capitalismo exige a corrupção”, pondera ele, que emenda: “Estamos engatinhando em tentativas para reverter ou suavizar isso. Até onde lembro, nunca tinha visto um senador e um bilionário do sistema financeiro presos. Espero que isso não seja só fogo de palha”, diz, fazendo menção ao banqueiro André Esteves e ao senador Delcídio do Amaral, presos na semana passada.

Mas a trama de ‘O Fim e os Meios’, de Murilo Salles não se restringe a apontar os desvios de caráter de quem frequenta o Congresso Nacional, em Brasília. Através de um triângulo amoroso entre uma jornalista (Cintia Rosa), um marqueteiro (Pedro Brício) e Hugo (Marco Ricca), assessor de um senador, coronel do sertão nordestino, o filme sugere que todos somos corruptíveis. “Essa é a grande visão do Murilo. Ele trata isso a partir da esfera do ser humano”, comenta o ator. “Isso não está ligado à esfera maior. Se no dia a dia, a gente corrompe um guardinha de trânsito e comete pequenos delitos e acha que é algo pequeno, precisa ter a consciência de que está gerando algo muito maior lá na frente.”

Mas Ricca admite que a prática não é tão simples quanto parece a teoria. Por isso, muitas vezes, escolhas individuais são tomadas em detrimento do coletivo. “O ser humano tem uma tendência egoísta. Ainda mais nestes tempos de individualidade. Esquecemos o coletivo e cada um tenta salvar o seu. Acho que o primeiro passo para mudar isso é a educação com um conselho ético diferenciado. Pois a tentativa de mudar está em dentro de cada um. Mas dá trabalho.”

Marco Ricca contracena com Cintia Rosa%2C no filme onde são Hugo e CrisDivulgação

AS INSPIRAÇÕES DE MURILO SALLES

Ao ser questionado sobre o que o instigou a fazer ‘O Fim e os Meios’, Murilo Sales dispara: “Quis falar sobre como qualquer um está propício a se corromper”. Como a protagonista, a jornalista Cris (Cintia Rosa), que, diante do redemoinho da vida, age com o coração. Aliás, ele revela que foi uma ex-repórter do DIA que inspirou o nome da personagem. “É por causa da Christina Nascimento. Sou fã dela”, diz o cineasta, que também recebeu conselhos do nosso colunista Fernando Molica para escrever o roteiro.

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