Por thiago.antunes

São Paulo - “Bem-vindos ao White Choice Awards”, saudou o mestre de cerimônias Chris Rock logo no início de seu monólogo de abertura. A falta de diversidade na lista dos concorrentes ao Oscar 2016 foi uma grande sombra, muito bem projetada pelo humorista, durante toda a cerimônia de premiação.  

GALERIA: Confira os grandes vencedores do Oscar 2016

A Academia abraçou a controvérsia e soube rir de si mesma. Mas também soube falar sério. A presidente da instituição, Cheryl Boone Isaacs, foi ao palco dar um puxão de orelha em todo mundo em plena televisão. “Todo mundo na academia tem um papel a cumprir para precipitar as mudanças que todos nós queremos ver”, disse. “Cada um de vocês é um embaixador da boa vontade. Martin Luther King disse certa vez que o que mede um homem não é como ele se posiciona em momentos de comunhão e paz, mas como ele se posiciona em tempos de controvérsia”.

'Mad Max%3A Estrada da Fúria' foi o filme mais premiado do Oscar 2016Reprodução

Controvérsia, aliás, parece ser a palavra-chave do Oscar 2016. O filme mais premiado da noite foi 'Mad Max: Estrada da Fúria', que conquistou seis estatuetas. Todas elas técnicas. O segundo filme mais premiado da noite, e em categorias nobres, foi 'O Regresso'. Mas o de melhor filme não estava entre as estatuetas amealhadas pelo filme que concorria a 12 Oscars.

O melhor filme do ano, 'Spotlight –Segredos Revelados', conquistou o primeiro e o último Oscars da noite. E foi isso. O filme de Tom McCarthy ganhou apenas dois Oscars. A fita concorria a seis. É a primeira vez desde 1953 que o vencedor de melhor filme conquista apenas duas estatuetas. Na ocasião, “O Maior Espetáculo da Terra” de Cecil B.DeMille também só ganhou os Oscars de roteiro e filme. 

Mark Ruffalo em cena de 'Spotlight'%3A Elemento surpresa Divulgação

Mais do que qualquer coisa, o Oscar 2016 reforçou o poder dos sindicatos. 'Spotlight' havia vencido o prêmio do sindicato dos atores. São justamente os atores que compõem o maior colegiado dos votantes do Oscar e a vitória do filme comprova a influência deste sindicato em particular no resultado final do Oscar. Raciocínio semelhante pode ser aplicado à vitória de Mark Rylance, por 'Ponte dos Espiões', entre os coadjuvantes. Apesar de todo o hype em torno de Sylvester Stallone, o intérprete de Rocky Balboa não figurava na lista do SAG. Rylance sim. Mesmo sem ter vencido no SAG, que premiou Idris Elba, Rylance era uma escolha mais natural e ela foi feita.

'Mad Max: Estrada da Fúria' barbarizou nos sindicatos das categorias técnicas e assim o fez no Oscar. O cineasta Alejandro González Iñárritu, vencedor no sindicato dos diretores, voltou a vencer no Oscar no ano seguinte a seu triunfo por “Birdman”.

O fato dos sindicatos não convergirem em torno de um filme, ou mesmo de dois, como em outros anos, gerou essa disputa ensimesmada que resultou em um Oscar de saldo duvidoso. A despeito de se gostar ou não de 'Spotlight', é passível questionar o melhor filme do ano que, fora este troféu, só detém outro.

Leonardo DiCaprio ganhou o Oscar de melhor ator por 'O Regresso'Reprodução Twitter

Em meio a tantas incertezas, reinou Leonardo DiCaprio. O ator, que concedera entrevistas protocolares no tapete vermelho, confirmou as expectativas e foi o vencedor do Oscar pelo protagonista de 'O Regresso'. Gracioso, DiCaprio agradeceu a academia, os concorrentes, os parceiros ao longo da carreira, ao “visionário” Iñárritu e apelou à consciência social para os problemas ambientais e a mudança climática.

As jovens Alicia Vikander, 28 anos, e Brie Larson, 27 anos, venceram como atriz coadjuvante e atriz por 'A Garota Dinamarquesa' e 'O Quarto de Jack' respectivamente.

A maior surpresa do Oscar talvez tenha sido a vitória de 'Ex-Machina: Instinto Artificial' na categoria de efeitos visuais. Mas não foi um Oscar surpreendente como muitos podem crer. A vitória de 'Spotlight', ainda que não necessariamente nos termos em que ela se deu, já era bastante palpável. Mais até do que eventualmente a de “O Regresso”.

Brie Larson levou o Oscar de melhor atriz por 'O Quarto de Jack'Reprodução Twitter

Mas o grande momento da cerimônia, em geral mais dinâmica do que de hábito, foi quando Chris Rock esbofeteou toda a comunidade do cinema na cara. “Hollywood é racista? Você pode ter a mais absoluta certeza que sim. Hollywood é a fraternidade do racismo. É tipo assim, ‘Nós gostamos de você Rhonda, mas você não é uma Kappa!”.

O Oscar aconteceu sob o efeito dessa bofetada e, de certa forma, isso tem tudo a ver com o sentimento provocado por 'Spotlight' enquanto cinema e, portanto, afere um sentido um tanto poético a seu consternado triunfo no Oscar.

Fonte: iG

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