Por felipe.martins

Rio - Martinho da Vila, que tem a geografia do bairro boêmio carioca no nome, expande suas fronteiras e coloca em seu 14º livro ‘Barras, Vilas & Amores’ (Editora Sesi-SP, 216 págs., R$ 42), histórias passadas pelos locais onde viveu. “O livro é um passeio. Ele começa e termina em Duas Barras. Barra da Tijuca é onde estamos, onde eu moro. Vilas são as vilas de Vila Isabel, da minha escola de samba. Fala um pouco sobre o bairro, sobre a história de Noel Rosa. E amores. Tem dois casos de romance que são ficções, mas as pessoas transitam por situações e lugares reais. Duas histórias que se misturam com o livro”, conta o autor, que lança hoje no Rio sua obra no evento Ocupação Poética, no Teatro Cândido Mendes.

Em formato de poesias, letras de música e prosa num mesmo contexto, a ideia para o romance surgiu a partir dos pensamentos de Martinho sobre política. “Eu estudo Relações Internacionais e decidi pôr um hipotético embaixador do Brasil que viaja muito e fala de seus amores por aí”, explica.

'Eu sinto%2C no bom sentido%2C que a Vila é quase uma propriedade minha. Mas te confesso que não tenho tempo para ficar lá integralmente'%2C diz o escritor e compositorGuto Costa / Divulgação

Martinho dividiu o título de seu novo livro em três paixões: Duas Barras, onde viveu até os quatro anos, a Barra da Tijuca, onde mora hoje e vilas, que, claro, se trata de Vila Isabel, uma paixão que suplanta os anos. “Eu e a Vila Isabel nos fundimos. Eu sinto, no bom sentido, que a Vila é quase uma propriedade minha. Mas te confesso que não tenho tempo para ficar lá integralmente. Tenho minhas ocupações. Mas se a Vila apresentar problemas é só me chamar. Nos tempos de crise, eu me apresento mais. Nas calmarias, vou cuidar da minha vida”, diz.

No ofício de escritor, Martinho diz que o prazer, em geral, só acontece quando o livro está sendo editado e que o trabalho é um dos mais difíceis que existem. “Eu sofro para escrever, é uma tarefa extremamente solitária e conheço gente que diz que chega a sentir dores fisicamente para criar uma história”, revela.

Mas se ele sofre para escrever, quando volta para o banco da faculdade, aos 78 anos, a história é diferente. “A gente não pode ficar parado. Eu procuro sempre evoluir. Por isso, estou estudando. E olha que me divirto bastante”, constata, com ares de que ainda vem muita coisa por aí.

O bairro de Vila Isabel como enredo

Martinho se confunde com a escola de samba Vila Isabel, para a qual já criou sambas-enredos e é uma referência constante. “Gosto mais de fazer enredos, pois crio um tema e tudo transcorre de acordo. Fazer o samba é bom, bacana, mas a gente fica preso a um assunto”, compara.

Ao falar da Vila é inevitável falar de Noel Rosa, pois a escola de samba era a paixão de um dos maiores compositores da MPB. “Noel foi o responsável por beber da fonte. Ele ouvia as pessoas do morro com seus dramas e problemas violentos e trazia os temas para o asfalto, falando com mais poesia e candura de tudo. Foi um dos responsáveis por falar de temas urbanos e amorosos”, define Martinho, que dedica um capítulo do livro a Noel.

Tranquilo como sempre, Martinho está curtindo a ideia da Ocupação Poética. O evento marca o lançamento do livro e conta com as participações de Geraldo Carneiro, Maíra Freitas, Fernanda Abreu, Elisa Lucinda, Zezé Motta, Maria Ceiça, Dani Ornellas, Flávia Oliveira, entre outros.

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