Por gabriela.mattos

Rio - O dia do casamento deveria ser, na teoria, o dia mais feliz na vida de qualquer noiva. Mas muitas delas encontram momentos de tensão durante a preparação para subir ao altar. Nesse grupo estão muitas mulheres negras, com filhos, moradoras de comunidade, que não se veem representadas pelos pacotes oferecidos para o ‘grande dia’.

Pensando nessas noivas, o projeto ‘Ela Disse Sim’, criado pela produtora e maquiadora Sylvia Vitoriano e a cabeleireira Gabriela Azevedo, auxilia, de forma gratuita, na produção de futuras esposas, que têm dificuldades financeiras.

“Nossa intenção é fazer uma homenagem a essas mulheres, que demoram tanto a realizar o sonho de casar por tantas questões. São mulheres negras, em sua maioria, que não querem fugir das suas raízes, não querem fazer festa fora da favela onde vivem e não querem alisar o cabelo”, explica Sylvia.

Projeto ‘Ela disse sim’ ajuda noivas de comunidades a se produzirem e se casarem dentro do local onde vivem Jiglay Ibarrola e Léo Lima

O vestido branco pode, sim, contrastar com o visual black power e com o cenário peculiar das comunidades. “Mostramos como as fotos podem ficar lindas ali dentro da atmosfera delas. Uma noiva de dreads no cabelo, em cima de uma laje, numa festa que cabe no orçamento delas é uma combinação linda”, acrescenta a produtora.

O projeto surgiu após relatos de muitas meninas que viam seus sonhos não serem realizados por conta das diferenças sociais, como Caroline Sotero, que vai se casar no ano que vem.

“Nesse ramo de casamento, às vezes me sinto só! Num mundo branco de noivas, ficamos tentando nos encaixar, mas é difícil encontrar quem possa nos entender nesse momento tão emocionante. O foco é sempre a mulher branca, maquiagem para pele clara e penteados para cabelo liso. Faltam profissionais de estética capacitados para maquiar uma pele negra e fazer penteado em cabelo crespo”, lamenta Caroline. “Escolher algo nada a ver comigo é uma automutilação, nada ideal para um dia de noiva”, completa.

Para que seu projeto ganhe força, Sylvia tem divulgado nas redes sociais, nos encontros de coletivos e na ExpoNoivas, além do boca a boca. Sylvia entra com a maquiagem, Gabriela com o penteado e as duas correm atrás de parcerias: lojas que possam emprestar os vestidos e fotógrafos que queiram fazer os registros dos noivos dentro das comunidades.

“Tenho certeza que vamos achar colaboradores. Nosso desejo é fazer o máximo por elas de forma gratuita, mas, pelo menos, a produção estética a gente garante”, comemora Sylvia.

Fabiola Oliveira, que acabou de ficar noiva, posou para o projeto e adorou a proposta: “Tudo sempre foi força, dureza, resistência, reação, ação. Não aprendemos a doçura nessas experiências violentas do racismo. Muitos ‘nãos’ quase destruíram a existência do dia do ‘sim’, mas agora o sim brota lindo, suave, apesar do árido terreno.”

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