Por karilayn.areias

Rio - Na pele de Jesus Cristo, na nova versão do clássico ‘Ben-Hur’, dirigida por Timur Bekmambetov, o ator Rodrigo Santoro conta como foi dar vida ao seu personagem, confessa que o mais difícil é perdoar seus inimigos e revela a sensação de ser crucificado. Rodrigo e o britânico Jack Huston, que faz Ben-Hur, foram a São Paulo ontem para divulgar o longa, que estreia no Brasil, em 3D, no dia 18.

Santoro diz que passou um frio de matar na cena em que Jesus é crucificado. “A filmagem da cena durou 3h, e eu estava em transe mesmo, porque até meu cérebro estava congelando. Filmamos na Quarta-feira de Cinzas e, na noite anterior, tinha nevado. Não deu nem para pensar em como dizer nada. O frio era desesperador”, relembra o ator, que chega a se emocionar durante a coletiva com Huston falando do papel. “Estávamos numa montanha com a cidade toda lá embaixo. Foi inesquecível. Nunca vou me esquecer da cara do Jack me olhando, inclusive. Estudei também várias teorias sobre o que Jesus disse na cruz. Perguntei para a produtora qual era a melhor forma de dizer aquilo e ela: ‘Vai no seu coração’”.

O sacrifício valeu! Rodrigo se diz modificado por causa do papel. “Tento ser uma pessoa melhor a cada dia. Cheguei perto do exemplo, que foi Cristo. No filme, o personagem fala: ‘Você tem que amar seus inimigos’. Tento levar esse raciocínio para momentos em que a agressividade pode tomar conta, como quando levo um carrinho no futebol ou uma fechada no trânsito”, diz. “Bom, mas quando você leva um carrinho é difícil pensar: ‘Pô, amigo... Beleza, entendo, você ama futebol, se empolgou e me machucou...’”, completa, brincando.

A parte mais complexa, claro, ficou com Huston. O neto do gigante do cinema John Huston assistiu às três horas do filme original, de 1959, centenas de vezes e sabia o que o aguardava. A cena mais esperada e icônica do longa — a da corrida de bigas, em que Ben-Hur briga ferozmente contra o irmão Messala (Toby Kebbell) — foi filmada sem efeitos especiais nem dublês e com seis câmeras.

“Não quisemos usar efeitos porque perderia toda a emoção da cena. Nos concentramos na ação e queríamos que fosse algo mais realista. Começamos com uma biga com dois cavalos, depois uma com quatro cavalos. Passamos quatro meses treinando como lutar, seis dias por semana. Eu caía por debaixo da biga, me jogava... Bom, quando dava certo, era uma maravilha. Era um Nascar”, brinca o inglês, referindo-se à famosa corrida de automóveis. “O Timur até falou: ‘Olha, você só não pode esquecer de atuar!’ Minha cara estava congelada!”.

O enredo

A história volta aos últimos anos da vida de Cristo, e fala de Judah Ben-Hur, acusado de traição pelo irmão adotivo Messala, oficial do exército romano e campeão da corrida de bigas. Judah é afastado da família e de seus títulos de nobreza em época de forte intolerância religiosa, com brigas entre romanos e judeus. “Temos tantas guerras políticas, religiosas, intolerância religiosa... Precisamos de um filme como esse para reavaliarmos posições”, diz Huston. “Um amigo até disse que o filme tinha mesmo a ver com os dias atuais, com essa agressividade de hoje, e falou que ia me mandar um textão sobre isso. Estou esperando!”, graceja. “Na época, era o ‘ou eu, ou ele’. E hoje é o ‘nem eu, nem ele’. É incrível! Uma violência tão grande que a gente nem consegue falar dela”, escandaliza-se Santoro.

Outras cenas marcantes são as de Ben-Hur escravizado, nas galés, remando com mais uma centena de homens. “Ficamos remando de verdade. Perdi 15 quilos para isso, o personagem ficava muito forte. E eu ainda passava o tempo todo ao lado de vários homens suando e cheirando mal”, brinca Huston, que conheceu bem o ator Charlton Heston, que fez o Ben-Hur em 1959.

Para seu protagonista, Huston buscou algo diferente, com o que todos podem se identificar. “Ele era um cara másculo, durão. Tentei dar ao Judah um ar de criança perdida. Um cara que passou por muitas atrocidades e teve que reavaliar toda a sua vida. E tem que lidar com sua raiva, além de aprender a perdoar. O estilo de atuação dos anos 50 era mais teatral, formal. Meu desafio foi tentar modernizar a atuação”, conta Huston, jogando só elogios para Rodrigo. “O conheço há muito tempo e ele é um dos grandes atores da geração dele. É preciso um ator de verdade para fazer Jesus. Ele deu ao personagem a presença de um homem que aparece na sua vida quando você mais precisa daquilo”, acredita.

“Eu fiz um Jesus mais humano, não o Jesus bíblico. Quis fazer um cara que chega perto das pessoas, não um que fica só dando ensinamentos”, conta Rodrigo. 

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