Por karilayn.areias
Elisa Queirós superou duas depressões desencadeadas por estresse NELSON RICCIARDI

Rio - "O estresse é a resposta fisiológica do organismo a uma mudança ou demanda fora do habitual”, esclarece a psiquiatra Juliana Garbayo dos Santos. Ela acrescenta que os fatores que provocam o estresse podem ser externos, como o trabalho, ou internos, como uma doença aguda que exige uma resposta rápida do organismo.

Embora a palavra estresse venha carregada de conotações negativas, Juliana ensina que, ao contrário do que muitos imaginam, não é sempre ruim. Pode até ser benéfico: “Ele nos permite enfrentar os desafios, preparando nosso corpo para lidar com tudo que possa ser considerado uma ameaça ao bem-estar físico ou psíquico. O organismo estressado está pronto para enfrentar um perigo iminente: lutando ou fugindo. Esta reação é essencial para a defesa da vida”.

Então, por que sofremos tanto com as consequências do estresse? A psiquiatra explica que, na contemporaneidade, estas situações de ‘alarme’ não têm acontecido somente em picos, para nossa defesa, mas em manifestações mais sutis, e o que é pior, constantes.

“Excesso de trabalho, medo da violência, preocupações financeiras, por exemplo, geram um estado de tensão que leva nosso organismo a ficar o tempo todo ‘em alerta’. Ele não é uma doença, mas gera alterações no funciona mento do organismo”, diz.

O estado estressante pode facilitar, agravar ou desencadear diversas doenças: hipertensão arterial , obesidade, dores musculares, dificuldade de concentração, depressão, ansiedade, diminuição da libido, entre outras. Além de doenças autoimunes e até câncer. Segundo um estudo de 2003, do livro ‘Psicologia: Reflexão e Crítica’, as mulheres ainda são mais afetadas, e muito, pela exigência de serem ‘boas’ em todas as áreas de atuação. “Esse estudo verificou sintomas significativos de estresse em 79% das mulheres e 52% dos homens, aproximadamente”, diz Juliana, que alerta que, para diminui-lo, é importante exercitar o autoconhecimento, o que vai facilitar a percepção dos sinais de que algo não vai bem, respeitando seus limites: “É melhor ser feliz do que ser perfeito. No geral, somos muito mais condescendentes com os outros do que conosco. Aplicar a compaixão consigo é uma ótima dica”.

Elas superaram e se cuidam todos os dias

Elisa Queirós, 47 anos, cantora, venceu duas depressões desencadeadas por alto nível de estresse. Na primeira, há 13 anos, o que aparentemente motivou foi o desequilíbrio hormonal do pós-parto. A segunda crise aconteceu há cinco anos, e durou mais, cerca de um ano, motivada principalmente por uma crise conjugal que resultou na separação. “Faço análise desde então, pratico exercício físico, mantenho uma vida ativa profissionalmente, socialmente, isso me ajuda. Para quem está enfrentando algo similar, digo que tudo passa nessa vida. Procure se cercar de pessoas com amor verdadeiro, e abra espaço durante o dia, mesmo que sem vontade, para fazer algo que goste. Procurar profissionais para acompanhamento é importante, porque, na maioria das vezes, o estresse e a depressão têm efeitos químicos também”. 

Sonia Figueiredo, 52 anos, diretora operacional, trabalha no Theatro Municipal do Rio há 31 anos.Uma das caraterísticas do tipo de depressão que ela teve é a falsa aparência de que estava tudo sob controle.Sonja conta que a pressão da excelência no trabalho,junto às pressões da vida, a expuseram a muito estresse e à depressão. Ela procurou ajuda médica e terapêutica. “Uma médica clínica receitou um remédio que começou a dar efeito contrário. Achei que estava enlouquecendo, com pensamentos catastróficos. Fui a um psiquiatra e mudei a medicação. Me ajudou. Lamentavelmente, o cérebro é tratado como se fosse um órgão cujas doenças não merecessem atenção. A ‘high depression’, que já se estuda hoje em dia e foi o que tive, antes era negligenciada porque a pessoa não entra no quadro de depressão padrão, não fica na cama”.

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