“Como eu tinha uma seresta na quinta e fazia um forró na sexta, dispensei os caras”, lembra o gerente Antonio Gomes, 40 anos. Mas os produtores não se deram por vencido. Andaram mais um pouquinho, até a Rua Imperatriz Leopoldina, e fizeram o mesmo pedido no Bar do Chapéu. O dono do estabelecimento, o cearense Antonio Gonçalves de Medeiros, o Nanam, 40 anos, gostou da ideia e liberou a calçada em frente ao bar para os músicos do Samba Independente dos Bons Costumes.
O resto ficou por conta da vocação histórica e cultural da Tiradentes. Isso foi em abril de 2014. Em poucas semanas, o som feito no Nanam ganhou fama e atraiu milhares de jovens para a região. Quando o Antonio, do Araponga, viu o sucesso do vizinho, não titubeou. “Fiquei surpreso com o profissionalismo dos caras. Aí, convidei eles pra fazer um teste na quinta, no lugar da seresta”.
Hoje, o dia de maior movimento é às quintas. Apesar de ser a noite do pagode, toca-se de tudo. “Além de samba e pagode, rola baião, forró, chorinho e instrumental. A gente canta de Dorival Caymmi a Fundo de Quintal”, afirma o cantor do grupo, Vandro Augusto, 27 anos. Nos intervalos, um dos integrantes passa o pandeiro entre o público para recolher o cachê. “Já pingou até nota de euro”, diz Vandro. Nanam ficou sem a principal atração, mas seu ponto já estava consolidado e ele tratou de ampliar a variedade de shows gratuitos.
“A gente fecha na segunda, pra descansar. Mas na terça tem carimbó e música latina; na quarta é jazz; quinta tem forró; sexta é música popular; sábado tem jazz e samba; e no domingo, o pré-carnaval”, explica Nanam, que conta com as redes sociais para atrair mais e mais clientes para suas noites musicais.
Boa música e bebida
E quem vai uma vez sempre volta. É o caso das amigas Larissa Oliveira, 43 anos, da argentina Virginia Iurinic, 26 (que mora no Brasil há um ano), Camila Felix, 35, e Loulou Chavarry, 37. “Fiquei enfeitiçada. Não saio mais daqui”, conta Loulou, revelando que sempre odiou os eventos de rua, mas que se sente tão bem no Baixo Tiradentes que não quer mais saber de boate.
No embalo do Araponga e do Nanam, o Frango Diplomata também montou sua programação cultural: um forró, às quintas. O vendedor Felipe Nogueira, 33, é frequentador assíduo. “O forró começou a bombar faz um mês. O foco é aqui”, se empolga Nogueira, que mora na Tijuca. Feliz da vida, Antonio do Araponga, que por pouco não faliu, contratou mais dois funcionários. “A chegada dos eventos deu uma levantada. Se não fosse isso, a gente não ia sobreviver. Tiraram a corda do pescoço da gente”.