Por karilayn.areias

Rio - Em sua sétima temporada bem-sucedida no Rio, o espetáculo ‘Brimas’ segue emocionando as plateias. Em cartaz no Teatro Cândido Mendes, em Ipanema, até 2 de julho, a peça com texto das atrizes Beth Zalcman e Simone Kalil leva para o palco histórias inspiradas nas memórias das avós de ambas e traz para a roda um tema bem atual: imigração. “É um texto sobre nossas avós, imigrantes do Oriente Médio, vindas para o Brasil na década de 1920. ‘Brimas’ fala sobre amizade, imigração, solidariedade, memória, afeto”, resume Simone.

Cena da peça ‘Brimas’ Divulgação

Em cena, duas senhoras revivem com muito humor suas histórias, enquanto cozinham quibes para um velório. “Falamos dos que deixam suas pátrias e cruzam o oceano em busca de uma nova pátria. Falamos dessas travessias”, diz o diretor Luiz Antonio Rocha.

Indicadas ao Prêmio Shell, na categoria melhor texto, as atrizes identificaram nas memórias familiares uma história cheia de emoção e sabedoria para ser contada. “Em 2014, encontrei Simone e soube que ela queria montar uma peça sobre suas origens libanesas. Sugeri juntarmos nossos desejos. Descobrimos que tínhamos muito mais semelhanças do que diferenças. Minha avó, D. Esther Duek, judia do Egito, imigrou para o Brasil no início do século passado”, conta Beth.

REFERÊNCIAS CASEIRAS

Simone salienta que a imagem do Oriente Médio “somente de guerra” sempre a incomodou. “Minha referência é caseira: das festas, da alegria, da família, das comidas, danças, cheiros, sabores. Minha vontade era falar dessas referências além das guerras e conflitos, através da figura da minha avó e das outras mulheres da família”, lembra Simone, referindo-se a Marion, sua avó de origem libanesa.

A atriz diz ainda que o resgate do Brasil que se mistura, que acolhe os que chegam é o ponto alto de ‘Brimas’: “As pessoas lembram de suas famílias, seus antepassados. Tem um trecho em que contamos como era a chegada dos imigrantes ao Rio. Muitos não tinham endereço. Era dito a eles que quando entrassem no Brasil, andassem em linha reta até encontrar os ‘brimos’. Eles desembarcavam na Praça Mauá e andavam em linha reta, chegando ao Saara. Os moradores e comerciantes faziam festa para cada um que chegava. Todos eram acolhidos e pouco importava a religião”, lembra Simone.

MENSAGEM DE PAZ

Beth destaca que, em tempos de intolerância, o projeto vem com a mensagem de possibilidade de paz entre os povos, independentemente das diferenças: “Nossas avós imigrantes chegaram aqui e puderam, pela solidariedade, tolerância e humanidade, construir belas histórias, assim como todos os brasileiros. Afinal, somos todos imigrantes. E nesse instante lembramos que todos têm direito à vida e a escrever suas histórias”.

Elas observam que, ao longo das temporadas, as plateias saem motivadas pelas atitudes de respeito e tolerância que assistem.

“A peça promove uma espécie de ‘onda afetiva’ no teatro que contagia o público. Começa pelos sabores, nos quibes servidos no início do espetáculo. O público mergulha nos valores e ensinamentos das avós, na simplicidade delas, na amizade verdadeira e no amor que essas matriarcas espalham”, diz Simone.

Beth concorda e completa: “Simone virou minha ‘brima’ de verdade. Estamos unidas por nossas histórias”. 

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